A recente declaração do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, questionando o interesse do governo federal em deixar que as facções criminosas avancem no Brasil, é uma interrogação que todos os brasileiros deveriam fazer. Caiado, conhecido por sua postura enérgica em defesa da segurança pública, expressou o que muitos já sentem: uma inquietante sensação de abandono, enquanto facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) expandem sua influência sem que uma resposta firme seja dada pelo Estado.
O episódio recente no aeroporto de São Paulo, onde um empresário que delatou operações do PCC foi brutalmente assassinado, lança uma sombra ainda mais perturbadora sobre essa questão. Mesmo após pedir maior proteção ao Ministério Público, sua solicitação foi negligenciada, levando ao seu assassinato em plena luz do dia. Esse crime não é apenas uma tragédia individual; ele simboliza o alcance assustador das facções e a fragilidade de um sistema que deveria proteger aqueles que ousam desafiar o poder do crime organizado.
Para Ronaldo Caiado, a situação atual é insustentável. Ele argumenta que o avanço das facções não só impacta a segurança pública, mas também abala as estruturas econômicas e sociais do país. Em estados como o Rio de Janeiro, empresas e trabalhadores já se veem forçados a negociar com o crime para poderem operar. As facções, mais do que dominar territórios, parecem estar ocupando mercados, criando um “paralelo” onde negócios legítimos são substituídos ou subordinados a operações ilegais. Trata-se de uma ocupação silenciosa, mas devastadora, que compromete a própria economia e autonomia de várias regiões do Brasil.
Caiado tem razão ao questionar o posicionamento do governo federal em face desse cenário. Afinal, se não há um esforço genuíno e unificado para enfrentar as facções, que interesses estão em jogo? É legítimo perguntar, como fez o governador, se existe alguma conveniência por trás dessa inércia, seja por falta de vontade política ou por entraves institucionais. A criminalidade avança não por falta de capacidade técnica, mas por uma ausência de estratégias concretas e coordenadas entre o governo federal e os estados.
O Brasil, com suas vastas fronteiras e vulnerabilidades, depende de uma cooperação internacional eficaz para conter o tráfico de drogas e armas que abastece as facções. Ronaldo Caiado sugere acordos mais rígidos com países vizinhos como Colômbia, Venezuela e Bolívia, onde o tráfico é um problema comum. Propõe, ainda, o uso de tecnologias avançadas de monitoramento e a criação de um sistema de inteligência compartilhado entre os países da América do Sul. São medidas necessárias, mas que exigem uma liderança forte e comprometida, algo que o governo federal parece hesitar em assumir.
Além da diplomacia e das operações nas fronteiras, há uma urgência interna. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de restringir operações policiais em áreas de comunidades no Rio de Janeiro, segundo Caiado, é um exemplo de como as forças policiais estão sendo limitadas. A falta de respaldo legal para a atuação firme da polícia, argumenta o governador, coloca em risco a capacidade dos estados de conter o avanço das facções. É evidente que a resposta ao crime organizado não pode ser simples ou superficial, mas também é claro que as restrições excessivas podem acabar favorecendo aqueles que desafiam a lei.
O assassinato do empresário delator do PCC em São Paulo é o retrato de um Estado que parece incapaz de proteger aqueles que se colocam contra as facções. Se nem mesmo uma testemunha que pede auxílio ao Ministério Público pode confiar na proteção do sistema, o que esperar para o cidadão comum? Esse episódio é um alerta de que o crime organizado está mais ousado e poderoso, e o Estado, ao não tomar medidas contundentes, acaba sendo um cúmplice silencioso dessa expansão.
A crítica de Ronaldo Caiado não pode ser ignorada ou subestimada. Ela aponta para uma falha grave na coordenação entre os governos estaduais e federal, um abismo que as facções estão explorando com maestria. O povo brasileiro, que vive cotidianamente a violência e a opressão do crime, espera mais do que promessas vazias. Espera ação, articulação e compromisso para garantir a segurança e a paz.
O governo federal deve responder à altura, com estratégias claras e sem ambiguidade. Porque a pergunta de Caiado – “Qual é o interesse em deixar as facções avançarem cada vez mais?” – é, na verdade, a pergunta de todo brasileiro que hoje vive refém do medo e da violência.