Brasília – Passadas as eleições no Brasil e nos Estados Unidos, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a traçar um plano de reeleição para 2026. Fontes próximas ao Palácio do Planalto confirmaram que, apesar de hesitações iniciais, Lula tende a ser “politicamente empurrado” para disputar novamente a presidência.
A estratégia em discussão envolve duas frentes principais: a construção de alianças políticas que sustentem o governo na segunda metade de seu mandato e o fortalecimento da economia para atrair o eleitorado.
Alianças políticas e reforma ministerial
Na frente política, o governo estuda uma mini-reforma ministerial para coincidir com a eleição das novas presidências da Câmara e do Senado em fevereiro. A reestruturação visa não só garantir governabilidade até 2026, mas também fidelizar aliados para a campanha de reeleição. Entre os cenários ventilados, há a possibilidade de composição com o MDB, com o vice saindo desse partido. Entre os nomes cogitados estão Helder Barbalho, Simone Tebet e Renan Filho.
Outro partido que o governo vê como aliado potencial é o PSD de Gilberto Kassab, que garantiu ampla presença nas prefeituras do Sudeste nas últimas eleições. A possível adesão do PSD fortaleceria palanques cruciais, como Minas Gerais, com Rodrigo Pacheco ou Alexandre Silveira, e Rio de Janeiro, com Eduardo Paes. A meta é consolidar o apoio nesses estados para neutralizar a influência de São Paulo, hoje sob a liderança do governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos.
Por outro lado, União Brasil, PP e Republicanos são vistos com baixas chances de adesão formal à chapa de reeleição. Caiado, do União Brasil, já é pré-candidato, enquanto o PP mantém forte ligação com o bolsonarismo, e o Republicanos segue leal a Tarcísio, provável nome da oposição. A estratégia do governo é garantir, ao menos, a neutralidade desses partidos em 2026, possibilitando apoio informal em palanques estaduais.
Eleições na Mesa Diretora e manutenção de apoio legislativo
A reeleição de Lula passa também pela eleição das mesas diretoras do Congresso, em que o Planalto planeja amarrar uma agenda legislativa de apoio à reeleição. Nos bastidores, comenta-se que uma das estratégias para consolidar a base governista seria oferecer cargos de destaque no ministério a aliados dos favoritos para comandar o Congresso, como Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara e Davi Alcolumbre (União-AP) no Senado.
Uma possibilidade é a concessão do Ministério da Saúde a Rodrigo Pacheco e a criação de cargos estratégicos no Palácio do Planalto para atrair partidos do Centrão. A pasta da Saúde, que enfrenta críticas internas e externas, seria um ativo valioso para fortalecer a base aliada. No entanto, Lula tem relutado em substituir a atual ministra, Nísia Trindade, que conta com apoio no governo, embora a pasta enfrente uma “agenda negativa” devido a problemas com vacinas e combate a doenças endêmicas.
Ajustes na comunicação e fortalecimento das “marcas” do governo
Em paralelo à reestruturação política, o Planalto pretende reforçar sua comunicação. Críticas à gestão de Paulo Pimenta no Ministério das Comunicações, especialmente devido ao fracasso de uma licitação para reformular a comunicação digital, têm ganhado força. A estratégia inclui reforçar a presença digital, espaço onde o bolsonarismo tem dominado na última década.
As “marcas” do governo, como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, são vistas como fundamentais, mas a equipe de comunicação acredita que é necessário criar novas bandeiras que possam ser associadas diretamente a Lula. Programas recentes como Desenrola e Gás para Todos são considerados de grande potencial eleitoral, mas ainda são pouco conhecidos pela população. A expectativa é que Lula assuma pessoalmente o papel de divulgar esses projetos nos próximos meses.
Economia: um trunfo para a campanha de 2026
Com o objetivo de estabelecer a economia como carro-chefe da campanha de reeleição, o governo começou a abraçar a agenda de responsabilidade fiscal defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nas últimas semanas, a adesão ao pacote fiscal ganhou força, e o tema tem sido amplamente discutido entre ministros e no grupo de WhatsApp do governo.
Para o núcleo político do governo, manter a economia como prioridade poderá neutralizar as pautas de costumes exploradas pela oposição bolsonarista. A equipe econômica vê a aprovação do pacote fiscal como uma oportunidade para melhorar a imagem internacional do Brasil, retomar o grau de investimento perdido durante a gestão de Dilma Rousseff e estabilizar o câmbio, preocupações que ganharam força com a recente alta do dólar.
Em 2025, o governo pretende finalizar a reforma tributária e aprovar outras medidas fiscais que reforcem seu compromisso com a responsabilidade econômica. Para Lula, esses avanços serão determinantes para conquistar a confiança do eleitorado e consolidar sua base de apoio, criando um cenário mais favorável à sua candidatura.
A combinação de aliança política e estabilidade econômica constitui o núcleo da estratégia do Palácio do Planalto para garantir a reeleição de Lula. Em um cenário político marcado pela fragmentação e pelo fortalecimento de lideranças estaduais, o governo tenta estruturar uma base de apoio sólida que assegure sua governabilidade e alavanque uma candidatura competitiva em 2026. As próximas semanas serão cruciais para definir os rumos dessa estratégia, com a formação da Mesa Diretora e as primeiras movimentações para a reestruturação ministerial.