O setor de deep tech, ou tecnologia profunda, está em ascensão no mundo e no Brasil, e promete transformar áreas fundamentais da economia e da sociedade, como saúde, energia, transporte e meio ambiente. No mês passado, a União Europeia (UE) anunciou um aporte de US$ 1,5 bilhão em tecnologias avançadas, especialmente em Inteligência Artificial (IA), para promover a inovação científica e sustentável. Esse movimento, focado no desenvolvimento de soluções de impacto social e sustentabilidade, reflete uma tendência global que chega ao Brasil com força, embora o país ainda enfrente desafios estruturais para alcançar seu potencial completo.
Potencial e crescimento da deep tech no Brasil
O Brasil já figura como um dos polos de deep tech na América Latina, com mais de 300 startups atuando na área. O destaque vai para a biotecnologia, que representa cerca de 60% das startups brasileiras de tecnologia profunda, acompanhada pelo avanço em áreas como IA, nanotecnologia e tecnologia espacial. Estas áreas de inovação têm potencial para solucionar alguns dos maiores desafios brasileiros e globais. A IA, por exemplo, pode contribuir na análise de dados de saúde para a prevenção de doenças, enquanto a biotecnologia tem aplicação direta em novas terapias para doenças raras e na melhoria de processos agrícolas, como monitoramento de safra.
Para quem está no começo da carreira científica, o setor de deep tech no Brasil oferece uma vasta gama de oportunidades. Cientistas e empreendedores que optam por essa área encontram um campo fértil para o desenvolvimento de soluções tecnológicas que atendam demandas reais, tanto em inovação como em desenvolvimento sustentável. A união entre ciência e tecnologia em prol de um impacto positivo se mostra cada vez mais relevante, especialmente em temas como o uso responsável de recursos naturais e a preservação ambiental.
O que falta para o setor avançar no Brasil?
Para que o Brasil alcance seu potencial como protagonista em deep tech, o país precisa superar algumas barreiras e seguir o exemplo de países que investem pesadamente em inovação. Três grandes objetivos são fundamentais para estimular esse avanço:
- Fomento à Inovação: Investimentos direcionados a startups de deep tech são essenciais. Para que empreendedores possam desenvolver e testar soluções inovadoras, é necessário um apoio contínuo do setor público e privado. Essas startups não apenas criam tecnologia, mas também geram impacto social, atendendo a necessidades como saúde e segurança alimentar.
- Fortalecimento da Pesquisa Acadêmica: A colaboração entre universidades e empresas é crucial para o desenvolvimento tecnológico. Esse ambiente conjunto é uma oportunidade valiosa para cientistas e empreendedores, oferecendo espaços para projetos de pesquisa aplicada e parcerias que aceleram a entrada de soluções no mercado.
- Desenvolvimento Sustentável: O potencial da tecnologia profunda no Brasil pode ser um fator importante para preservar os recursos naturais e desenvolver uma economia verde. A aplicação de deep tech em monitoramento ambiental, por exemplo, poderia contribuir para a proteção de florestas e o uso consciente de recursos, respeitando padrões éticos e regulatórios.
Os desafios do setor de deep tech no Brasil
Apesar do crescimento do setor, a deep tech no Brasil enfrenta desafios significativos que impactam desde a abertura de startups até a expansão de tecnologias avançadas no mercado. São barreiras que jovens cientistas e empreendedores precisam entender para contribuir de forma efetiva:
- Falta de Estrutura Regulatória: Áreas como IA e biotecnologia ainda carecem de regulamentação clara. A falta de diretrizes específicas gera incertezas, afastando investimentos e impedindo o crescimento consistente do setor, já que muitas empresas se veem diante de obstáculos legais para expandir suas operações.
- Burocracia Excessiva: O Brasil é conhecido pelos longos e complexos processos burocráticos, que podem desestimular o desenvolvimento de novos projetos. Startups de deep tech, que frequentemente demandam um alto grau de inovação, acabam enfrentando atrasos e dificuldades adicionais para se estabelecer.
- Escassez de Profissionais Qualificados: Embora o setor esteja crescendo, há uma carência de profissionais com formação técnica em áreas como IA, nanotecnologia e biotecnologia. Essa escassez de talentos limita o desenvolvimento do setor, e o Brasil ainda precisa de mais iniciativas de qualificação para capacitar uma nova geração de especialistas em deep tech.
O futuro da deep tech no Brasil
Apesar dos desafios, o cenário é promissor. O setor de deep tech no Brasil tem perspectivas de expansão com o aumento da demanda por soluções tecnológicas em áreas estratégicas, como saúde, energia limpa e segurança alimentar. Para que essa transformação seja completa, é essencial investir em políticas públicas de fomento, redução da burocracia e programas de qualificação que incentivem a formação de talentos.
Com o apoio adequado, o Brasil tem potencial para se consolidar como um dos principais polos de deep tech da América Latina, oferecendo um campo fértil para jovens cientistas e empreendedores que desejam transformar o conhecimento científico em soluções práticas para problemas complexos. A deep tech, mais do que apenas uma área de tecnologia, representa a possibilidade de criar um futuro mais sustentável e ético, onde a ciência e a inovação estão a serviço de um impacto positivo e duradouro na sociedade.