Em um estudo inédito, pesquisadores brasileiros descobriram uma grande quantidade de plástico oriundo da África chegando às praias do Ceará, no nordeste do Brasil. O estudo, conduzido pelo professor Tommaso Giarrizzo da Universidade Federal do Pará, começou de maneira curiosa: durante uma caminhada pelas praias cearenses, Giarrizzo notou tampinhas de garrafas com símbolos e marcas desconhecidas no Brasil. A descoberta foi o ponto de partida para uma investigação sobre a origem desses materiais e os impactos da poluição marinha no Atlântico Sul.
A investigação revelou que uma parcela significativa do plástico encontrado nas praias brasileiras, particularmente no nordeste, é transportada pelas correntes oceânicas vindas do continente africano. Tampas de garrafas, embalagens e outros resíduos plásticos foram analisados, e muitos deles pertencem a marcas de países africanos, como Nigéria, Gana e Costa do Marfim. O estudo sugere que a poluição plástica tem se deslocado pelos oceanos a distâncias consideráveis, evidenciando o problema global que esse tipo de resíduo representa.
Impacto do plástico africano nas praias brasileiras
Segundo a repórter Alice de Souza, que participou do podcast sobre o estudo, a descoberta reforça a necessidade de ampliar a fiscalização sobre o manejo de resíduos sólidos, tanto no Brasil quanto em nível global. A presença desses resíduos vindos de tão longe demonstra que as soluções locais para o descarte inadequado de plástico podem não ser suficientes para conter a poluição que chega de outras partes do mundo.
Os pesquisadores destacam que o transporte transoceânico de lixo plástico não só prejudica o meio ambiente marinho, mas também coloca em risco a biodiversidade das regiões costeiras brasileiras. “Esses materiais afetam diretamente a fauna marinha e, consequentemente, as comunidades locais que dependem do ecossistema para sua subsistência”, afirmou Giarrizzo. O plástico se fragmenta em microplásticos que podem ser ingeridos por animais marinhos, entrando assim na cadeia alimentar e, eventualmente, atingindo os seres humanos.
Desafios globais e soluções necessárias
O estudo levanta um importante debate sobre a responsabilidade global no combate à poluição marinha. Embora o Brasil tenha suas próprias questões com resíduos plásticos, o fato de receber materiais de outros continentes através das correntes oceânicas reforça a necessidade de uma cooperação internacional mais robusta para enfrentar o problema. “A poluição marinha não respeita fronteiras. O plástico que jogamos fora aqui pode acabar em qualquer lugar do mundo”, destacou Alice de Souza no podcast.
A pesquisa sugere que as soluções para o problema do plástico no oceano devem incluir esforços internacionais coordenados, como o reforço de convenções globais sobre resíduos e ações mais rigorosas de prevenção e reciclagem nos países de origem do plástico. A conscientização do consumidor também é um passo crucial para reduzir a demanda por plásticos descartáveis e, assim, diminuir a quantidade de resíduos nos oceanos.
Repercussão e próxima fase da pesquisa
A descoberta ganhou atenção tanto no Brasil quanto no exterior, gerando debates sobre o impacto da poluição marinha na biodiversidade e na saúde pública.
A equipe de Giarrizzo continua a monitorar as praias do nordeste e a investigar a origem de outros resíduos encontrados na região. A expectativa é de que, com a ampliação do estudo, seja possível traçar rotas mais precisas dos resíduos plásticos e, assim, pressionar por políticas públicas mais efetivas em nível internacional.
Fonte: DW Brasil