O Brasil registrou um aumento expressivo no número de médicos na última década, passando de 239 mil profissionais, em 2004, para aproximadamente 576 mil, em 2024, de acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil, divulgado nesta terça-feira (15) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O crescimento levou o país a contar com quase três profissionais para cada mil habitantes, mas a má distribuição desses profissionais pelo território nacional ainda é uma questão alarmante.
Concentração nas capitais e desigualdade regional
Apesar do avanço na quantidade de profissionais, o estudo revela uma disparidade preocupante na distribuição dos profissionais. O Sudeste concentra 51% dos médicos do país, enquanto o Norte, com desafios logísticos e de infraestrutura, fica com apenas 8%. Nas capitais, a média é de sete médicos por mil habitantes, contra 1,9 nas cidades do interior.
O presidente do CFM, José Hiran Gallo, destacou a falta de políticas públicas eficazes para estimular a migração de médicos para áreas mais afastadas e menos desenvolvidas. “Temos 23% das capitais agrupando 52% dos médicos do Brasil. A razão é simples: melhores condições de trabalho, salários e qualidade de vida. Isso faz com que muitos médicos se concentrem nas capitais, deixando municípios mais distantes com falta de atendimento médico adequado”, explicou Gallo.
Situação no Piauí: médicos concentrados na capital
No Piauí, o estudo mostrou que a razão de médicos por mil habitantes é de dois, com 6.399 profissionais ativos no estado. No entanto, Teresina concentra a maioria desses médicos, com mais de sete profissionais por mil habitantes, enquanto o interior tem apenas 0,69. O cenário reforça a dificuldade de levar atendimento médico para as regiões mais carentes do estado.
Para Gallo, é necessário criar políticas públicas que estimulem a fixação de médicos no interior. “O Brasil tem mais médicos do que nunca, mas sem incentivos e infraestrutura adequada, os profissionais continuarão concentrados nas grandes cidades”, afirmou.
Problemas na gestão e infraestrutura
Além da distribuição desigual, o conselheiro federal do CFM, Estevam Rivello, apontou a má gestão pública como um dos principais problemas. “Hoje, com segurança, podemos afirmar que o Brasil tem médicos suficientes. O que falta é uma melhor gestão dos recursos e estrutura para garantir que esses profissionais cheguem às regiões mais necessitadas”, disse Rivello.
Segundo ele, a precariedade da infraestrutura de saúde em cidades menores, combinada com a falta de incentivos para os profissionais, é um grande obstáculo para o atendimento médico adequado no interior do país.
Crescimento acelerado, mas qualidade ameaçada
O estudo também chamou atenção para o crescimento acelerado dos profissionais que entraram no mercado, que quadruplicou desde o início da década de 1990, mas sem a devida preocupação com a qualidade da formação. “A criação indiscriminada de escolas médicas pode comprometer o preparo dos futuros profissionais, o que nos preocupa profundamente”, afirmou Gallo.
Ele ressaltou que o aumento não resolve a questão do atendimento público se não vier acompanhado de melhorias nas condições de trabalho e planejamento adequado para a gestão dos recursos humanos no SUS.
Desafios e soluções
Para equilibrar a distribuição de médicos e garantir um atendimento mais eficiente à população, o CFM defende a implementação de políticas de incentivo para profissionais atuarem em regiões de difícil provimento, além de investimentos em infraestrutura de saúde. “A assistência à saúde no Brasil não é uma questão apenas de números. É preciso planejamento e boa gestão”, concluiu Gallo.
Com o crescimento da quantidade de médicos no país e a crescente demanda por serviços de saúde, o desafio agora é garantir que esses profissionais cheguem onde são mais necessários, assegurando acesso à saúde de qualidade para todos os brasileiros.