Os céus parecem ser o destino favorito de alguns governantes do Piauí, que, ao que tudo indica, têm encontrado nas nuvens uma forma de escapar dos problemas que afligem quem vive em terra firme. Em 2024, os gastos com a locação de aeronaves para os deslocamentos do governador Rafael Fonteles já ultrapassaram R$ 6 milhões. Esses valores, além de elevados, revelam uma desconexão preocupante entre as prioridades do governo e as necessidades reais da população, especialmente em um estado onde a segurança pública é uma questão crítica e urgente.
Para colocar esses números em perspectiva, vale mencionar um exemplo recente do estado de São Paulo, que adquiriu 63 novas viaturas ao custo de R$ 12 milhões. Enquanto isso, o Piauí mantém uma política de aluguel de viaturas para a Polícia Militar, um modelo caro e que não resolve a crônica deficiência de equipamentos das forças de segurança do estado. Com os gastos que o governo piauiense destina anualmente ao aluguel de aeronaves, seria possível comprar cerca de 32 viaturas novas, o que permitiria renovar uma parte significativa da frota da PM a cada ano.
A grande questão do Piauí é a segurança pública, um tema que está na boca do povo, mas aparentemente não ocupa o topo da agenda de quem tem o poder de decidir os rumos do estado. Enquanto os cidadãos lidam com o aumento da violência, a precariedade dos recursos e a insuficiência de viaturas para atender às demandas diárias, o governo gasta milhões em deslocamentos aéreos para o governador e outras autoridades. O contraste é gritante: nas ruas do Piauí, a insegurança é uma realidade constante; nos céus, onde alguns políticos vivem, não há ruas, nem violência.
É inegável que as viagens oficiais fazem parte do trabalho de um chefe de estado, mas quando os custos dessas viagens começam a comprometer outras áreas prioritárias, é necessário refletir sobre as escolhas que estão sendo feitas. O investimento que poderia ser destinado à compra de viaturas, à melhoria das condições de trabalho dos policiais e ao combate à violência está, literalmente, voando. A segurança pública, que deveria ser uma das prioridades absolutas do governo, segue relegada ao segundo plano enquanto as frotas aéreas mantêm seu ritmo.
O modelo de aluguel de viaturas adotado pelo Piauí tem sido alvo de críticas justamente por seu alto custo e pouca eficácia em resolver o problema de segurança de forma duradoura. A cada ano, o estado renova contratos e segue com uma política que não oferece uma solução de longo prazo. Em vez de investir em uma frota própria e moderna, que possa ser mantida e expandida de forma mais econômica, o governo prefere continuar com a locação de aeronaves e veículos, uma estratégia que, a longo prazo, se torna insustentável.
Enquanto isso, a população do Piauí continua a enfrentar os desafios de uma segurança pública deficiente. A falta de viaturas adequadas, a escassez de policiais e o aumento da criminalidade são problemas que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas. Não há como ignorar a disparidade entre o que é gasto nos céus e o que falta nas ruas.
O governo precisa urgentemente rever suas prioridades e entender que a segurança pública não pode ser tratada como uma questão secundária. Os recursos são finitos e devem ser utilizados com inteligência e foco nas necessidades mais urgentes da população. O Piauí precisa de um governo que esteja com os pés no chão, atento às demandas de quem vive no estado e comprometido com a segurança de suas ruas, e não apenas com os voos de seus governantes.
Afinal, nos céus, onde alguns políticos parecem viver, a violência não é um problema. Mas nas ruas do Piauí, a realidade é bem diferente.