Teresina, 21 de novembro de 2024
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A Polícia Federal sempre vem

Fábio Novo, em sua pré-campanha para a prefeitura de Teresina, escolheu como mote um trecho da emblemática “Como nossos pais”, de Belchior. Ao se apropriar do verso “o novo sempre vem”, talvez sem perceber, deixou espaço para a ironia mordaz que só a vida política sabe construir. Afinal, quem é o “novo” em um candidato que, aos 50 anos, carrega nas costas duas décadas de atuação pública? Não é novo nem na idade, nem nas práticas. O paradoxo é claro, mas essa é apenas a primeira das contradições.

Recentemente, sua campanha foi marcada pela sombra de uma investigação federal. A Polícia Federal bateu à porta da Secretaria de Cultura, que Novo comandou até pouco tempo, trazendo à tona suspeitas que, no mínimo, arranham sua imagem. Seu indicado, o então secretário Anchieta, pediu demissão logo após a operação Front Stage, que investiga um esquema de desvio de recursos. De acordo com as primeiras informações vazadas, Anchieta teria recebido mais de 700 depósitos em suas contas. O eco do verso de Belchior ressoa mais forte: “tá em casa, guardado por Deus, contando o vil metal.”

Aqui, a vida imita a arte, e a arte desmascara a política. O “novo” de Fábio já parece ser um “Falso Brilhante”, tal qual o nome do disco que eternizou a música escolhida por ele. Uma escolha, agora, com o peso de uma ironia trágica. E, como em tantos outros casos na política brasileira, o novo que se apresenta é, na verdade, um passado que insiste em não ir embora.

Se Fábio Novo não agir rápido para estancar o sangramento causado por essa operação da PF, sua candidatura corre o sério risco de definhar antes mesmo de ganhar fôlego. As primeiras reações populares e a repercussão midiática já indicam que o eleitor começa a questionar a autenticidade do “novo” que ele propaga. Qualquer vacilo, e a campanha pode ser reduzida a uma sucessão de explicações e defesas, minando o espaço para discutir propostas. A história recente da política brasileira está cheia de exemplos de campanhas que ruíram em meio a escândalos, e Novo pode ser o próximo na fila.

O respingo não atinge apenas sua candidatura a prefeito. Fábio Novo, atual deputado estadual no Piauí, carrega a responsabilidade de ser uma das figuras políticas de destaque no estado, e as consequências dessa crise podem reverberar em sua atuação parlamentar. É difícil desvincular a imagem do deputado daquele que comanda uma campanha sob suspeita, ainda mais em um contexto em que o eleitorado está cada vez mais impaciente com práticas que remetem ao passado. Uma mancha na campanha a prefeito pode significar uma sombra que se estende para seu futuro político.

E falando em passado, a política, como a música de Belchior nos lembra, é um ciclo que insiste em se repetir. “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” é o trecho que melhor descreve a realidade de Fábio Novo. Na trajetória política, seus “pais” são figuras de peso: o ministro Wellington Dias e o governador Rafael Fonteles, líderes do grupo político do qual ele faz parte. O que resta saber é se ele seguirá o caminho traçado por seus mentores ou se sucumbirá ao mesmo desgaste que já vitimou tantas outras promessas políticas. A verdade é que, por mais que o “novo” sempre venha, se ele está preso às velhas práticas, ele não é o “novo”.

Indiscutivelmente, quem sempre vem mesmo é a Polícia Federal.

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