As mudanças climáticas estão gerando previsões alarmantes para o futuro da habitabilidade global, e o Brasil não está imune a essas ameaças. Um estudo publicado na revista Science Advances em 2020 levantou a possibilidade de que certas regiões do mundo, incluindo partes do Brasil, possam se tornar inabitáveis devido ao aumento das temperaturas de bulbo úmido (TW). Este artigo examina essas previsões e seus impactos potenciais para o Brasil.
Entendendo a temperatura de bulbo úmido
A temperatura de bulbo úmido (TW) é uma medida que combina a temperatura do ar com a umidade relativa, utilizando um termômetro de bulbo úmido envolto em um pano molhado. Quando o ar passa pelo pano, a evaporação da água esfria o termômetro, resultando na temperatura de bulbo úmido, que considera tanto o calor quanto a umidade.
Importância para a saúde humana:
- Regulação da Temperatura Corporal: A capacidade do corpo humano de regular sua temperatura depende da evaporação do suor. Acima de 35ºC de TW, o ar está tão saturado de umidade que o suor não consegue evaporar, tornando-se impossível para o corpo se resfriar.
- Limite Crítico: A 35ºC de TW, a regulação da temperatura corporal se torna ineficaz, podendo levar a problemas graves de saúde, como insolação, hipertermia e falência de órgãos.
Projeções climáticas para o Brasil
Embora o estudo da Science Advances não mencione diretamente o Brasil, um post da NASA em março de 2022 identificou o país como um futuro hotspot climático, projetando sérios problemas de habitabilidade até 2070. Regiões como o Rio de Janeiro e partes da Amazônia podem enfrentar temperaturas de bulbo úmido entre 33.4ºC e 33.6ºC, perigosamente próximas do limite crítico de 35ºC.
Impacto nas regiões brasileiras:
- Rio de Janeiro: A combinação de alta umidade e calor pode tornar a cidade uma das áreas mais vulneráveis. Eventos de alta TW mais frequentes podem tornar as condições de vida extremamente difíceis.
- Amazônia: A floresta amazônica, já sob ameaça de desmatamento e degradação, pode sofrer ainda mais com o aumento da temperatura e mudanças nos padrões de precipitação, afetando a biodiversidade e as comunidades locais.
Regiões globais em risco
O estudo destaca várias regiões do mundo que estão particularmente vulneráveis ao aumento das temperaturas de bulbo úmido:
- Sul da Ásia: Paquistão, Índia e o Delta do Rio Ganges são áreas críticas devido às altas temperaturas combinadas com umidade extrema.
- Litoral do Oriente Médio: Países ao redor do Golfo Pérsico, como Kuwait e Emirados Árabes Unidos, já registram temperaturas próximas ao limite crítico.
- Sudoeste da América do Norte: Regiões nos Estados Unidos e no México também estão em risco.
- Sudeste Asiático e África Subsaariana: Países como Indonésia, Malásia e regiões do Sahel enfrentam condições climáticas extremas que podem se agravar.
Implicações para a saúde pública e infraestrutura
Com o aumento das temperaturas de bulbo úmido, o Brasil pode ver um aumento nas doenças relacionadas ao calor, como insolação e desidratação. Populações vulneráveis, como idosos e crianças, serão as mais afetadas. Para mitigar esses impactos, será necessário um investimento significativo em infraestrutura de resfriamento, como ar-condicionado, e em estratégias de adaptação, como mudanças nos horários de trabalho e atividades ao ar livre.
Necessidade de ação
Para evitar que essas projeções se concretizem, o Brasil precisa adotar políticas robustas de mitigação das mudanças climáticas, incluindo:
- Redução das Emissões: Implementar medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
- Preservação das Florestas: Proteger e restaurar a Amazônia e outros ecossistemas críticos.
- Adaptação: Investir em infraestrutura resistente ao clima e em estratégias de adaptação para proteger a população.
- Cooperação Internacional: Trabalhar em conjunto com a comunidade global para enfrentar os desafios climáticos.
A ameaça das mudanças climáticas torna urgente a implementação de ações mitigatórias e adaptativas no Brasil. Com projeções indicando que grandes áreas do país podem se tornar inabitáveis nas próximas décadas, é crucial adotar políticas proativas e aumentar a conscientização sobre os riscos associados ao aumento das temperaturas de bulbo úmido.
A proteção da saúde humana e a garantia da sustentabilidade das comunidades dependem de uma resposta robusta e coordenada às mudanças climáticas.