O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do Brasil, registrou uma deflação de 0,08% em junho, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado está abaixo da mediana das projeções dos analistas consultados pela agência Bloomberg, que previam uma queda de 0,10%. Com isso, a taxa acumulada do IPCA nos últimos 12 meses chegou a 3,16%.
Meta de inflação e pressão para redução da Selic
A meta de inflação para 2023, definida pelo Banco Central (BC), é de 3,25%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). O recuo do IPCA está levando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados a pressionar o BC para uma redução na taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) reúne-se novamente nos dias 1º e 2 de agosto para decidir o nível da Selic. Antes do anúncio do IPCA de junho, os analistas do mercado financeiro já previam o início dos cortes da taxa básica em agosto.
A manutenção da Selic em dois dígitos tem sido a estratégia do BC para conter os preços e ancorar as expectativas de inflação. No entanto, o efeito colateral esperado é a desaceleração da atividade econômica, uma vez que o custo do crédito se torna mais alto para investimentos de empresas e consumo das famílias, uma situação que preocupa o presidente Lula e seus aliados.
Projeções e cenário futuro
Na mediana, os analistas do mercado financeiro projetam um IPCA de 4,95% acumulado até dezembro deste ano, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgado pelo BC. Isso significa que, por enquanto, as estimativas indicam IPCA acima do teto da meta para 2023 (4,75%). No entanto, a diferença entre as projeções e o limite da medida de referência vem diminuindo nas últimas semanas.
As projeções de inflação têm sido revistas para baixo devido ao enfraquecimento dos preços no atacado. No entanto, o IPCA de julho deve ser pressionado pelo retorno da cobrança integral de tributos federais sobre combustíveis. Na semana passada, o litro da gasolina teve alta de 5,8% nos postos brasileiros, segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O impacto das deflações registradas no segundo semestre de 2022 também deve sair da base de cálculo do IPCA acumulado nos 12 meses até o final de 2023, contribuindo para uma variação maior até dezembro. Este quadro foi influenciado pelas reduções artificiais de preços de produtos e serviços, como gasolina e energia, através do corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro no período pré-eleitoral do ano passado.