Os campos de futebol são conhecidos por acolherem uma gama de emoções – da alegria extática da vitória à angústia dolorosa da derrota. Mas em Valência, na Espanha, uma sombra mais escura caiu sobre o gramado quando insultos racistas foram lançados contra o jogador brasileiro Vinícius Júnior durante uma partida. Não foi apenas uma afronta ao jogador, mas também um ataque direto ao modelo social e democrático de convivência baseado no Estado de Direito, como afirmado pelo próprio Real Madrid, time do jogador.
Não há lugar para ódio em qualquer esfera da sociedade, muito menos nos esportes, onde se espera que a competição saudável prevaleça. O racismo é uma praga insidiosa que continua a manchar a beleza do jogo e a camaradagem que o futebol deve promover. A situação é tão grave que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, solicitou à FIFA e à La Liga que adotassem “medidas sérias” após o incidente, afirmando que “não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem o controle dos estádios de futebol”.
De fato, a Espanha parece ter um “problema” com o racismo, como admitiu o chefe da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales. Mas chamar isso de “problema” é um eufemismo. É uma epidemia. Uma crise. E, como Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, observou, “algo ruim está acontecendo nesta liga”.
O próprio Vinícius se manifestou, afirmando que a Espanha é conhecida “como um país de racistas” no Brasil. E, infelizmente, ele não está errado. Apesar das nove queixas formais feitas pela Liga Espanhola por abuso racial contra Vinícius nas últimas duas temporadas, parece que pouco foi feito para erradicar este comportamento tóxico. A maioria das queixas foi arquivada, os fãs foram multados e proibidos de entrar nos estádios, mas até agora apenas um torcedor de Mallorca pode acabar sendo julgado por supostamente insultar racialmente o jogador brasileiro durante uma partida.
É hora de a Federação Espanhola de Futebol, e todas as outras organizações esportivas ao redor do mundo, adotarem medidas mais drásticas para combater o racismo. Não basta apenas proibir os torcedores dos estádios ou aplicar multas. Precisamos de uma mudança cultural e social mais profunda. Precisamos de programas educacionais, campanhas de sensibilização e, acima de tudo, precisamos que aqueles que estão no poder tomem uma posição firme contra o racismo. Como afirmou o ministro da Justiça brasileiro, Flávio Dino, “Isso é deplorável, inaceitável e deve haver consequências”.
Este incidente é um lembrete doloroso de que, embora tenhamos feito progressos na lutacontra o racismo, ainda há um longo caminho a percorrer. A batalha contra o preconceito racial exige ação contínua, conscientização e uma firme disposição de não permitir que o ódio seja normalizado. A luta contra o racismo é uma luta que todos nós devemos travar – não apenas nos campos de futebol, mas em todos os aspectos da vida.
Vinícius é um jovem talentoso, que tem um futuro brilhante pela frente. É injusto que um jovem, que tem tudo para se tornar um dos melhores jogadores do mundo, seja insultado em cada estádio onde joga, como expressou o presidente brasileiro. E, no entanto, este jovem jogador permanece resiliente. Em meio aos insultos, ele recebeu amplo apoio dentro do mundo do futebol. Thibaut Courtois, goleiro do Madrid, declarou que teria deixado o campo com Vinícius se ele tivesse escolhido parar de jogar.
A coragem de Vinícius em enfrentar o racismo e continuar jogando, apesar dos insultos, é inspiradora. Mas ele não deveria ter que fazer isso sozinho. Como sociedade, devemos nos unir para apoiar os jogadores que enfrentam o racismo e trabalhar juntos para erradicar essa praga do esporte. Cada insulto racista é um lembrete de que ainda temos muito trabalho a fazer.
Então, vamos fazer esse trabalho. Não apenas pela Vinícius, mas por todos os atletas e indivíduos que enfrentam o racismo todos os dias. Não podemos ignorar este problema. Não podemos varrer o racismo para debaixo do tapete. Devemos confrontá-lo de frente e trabalhar incansavelmente para criar um mundo onde o racismo não tenha lugar – seja em um estádio de futebol ou em qualquer outro lugar.
No fim das contas, o futebol é mais do que apenas um jogo. É uma expressão da nossa humanidade comum. E em um esporte que une tantas pessoas de diferentes raças, culturas e origens, o racismo é uma afronta a tudo o que o futebol representa. Não podemos, e não devemos, permitir que continue.