Fortalecida pela presença da chinesa BYD, que lidera as vendas de veículos eletrificados no Brasil, a disputa pela manutenção da cota de importação de kits para veículos híbridos e elétricos se intensifica. O governo analisa a possibilidade de renovar ou não a isenção de impostos, em um momento crucial para o setor automotivo nacional, cujo desfecho deverá ocorrer em janeiro.
Quem está em jogo na decisão sobre a cota de importação
De um lado, a BYD, que se beneficiou da atual cota de cerca de US$ 463 milhões (R$ 2,46 bilhões pelo câmbio de sexta-feira), exporta por meio de regimes SKD (semidesmontado) e CKD (peças separadas), e investiu na fábrica de Camaçari, na Bahia. Seus executivos, apoiados pelo ministro Rui Costa, veem na prorrogação uma oportunidade de ampliar a presença no Brasil, considerado o mercado mais importante fora da China. Segundo um executivo da chinesa, o país se tornou um mercado decisivo, onde a companhia conseguiu consolidar uma fatia de aproximadamente 3,5% nas vendas de veículos leves.
Por outro lado, montadoras tradicionais como Volkswagen, GM, Toyota, Stellantis e Renault, agrupadas na Anfavea, defendem o fim do benefício tributário. Elas argumentam que a atual política favorece montagens básicas, que geram poucos empregos e pouco impulsionam o desenvolvimento industrial local. Essas empresas influenciam áreas técnicas do governo, com apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro Fernando Haddad, ligados à pasta do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Impacto político e econômico na decisão
O governo Lula, mediante reuniões com representantes da BYD e da indústria tradicional, tem demonstrado uma postura de equilíbrio. Em um encontro com a chinesa, Lula ouviu pedidos de extensão das cotas, mas evitou confirmar a renovação — dizendo apenas que a empresa seguirá as mesmas condições oferecidas às demais. Entretanto, no momento, a prioridade do Executivo é fortalecer a indústria local, estimulando cadeias de fornecedores e a expansão da produção nacional, como prevê o plano Nova Indústria Brasil (NIB).
O futuro da cota está nas mãos da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão que aprova ou rejeita a renovação. A decisão final, no entanto, depende da orientação de Lula, que pode direcionar a votação do colegiado.
Repercussões do debate na política e no setor
Além da disputa técnica, o tema envolve questões eleitorais. A permanência da cota favoreceria a manutenção de empregos na Bahia, especialmente na fábrica da BYD, que emprega cerca de 1.400 operários e busca atingir 500 veículos produzidos por turno. Executivos da chinesa também reforçam a importância do Brasil na sua estratégia global, pois o país se tornou uma peça-chave em sua expansão internacional, especialmente diante de bloqueios tarifários na Europa e Norte América.
O presidente Lula, por sua vez, tentou mediar o conflito ao privilegiar o entendimento com representantes das montadoras tradicionais. Em encontros com sindicatos e líderes políticos, Lula também se empenhou em restabelecer o acordo de comércio automotivo com a Colômbia, que havia expirado em setembro, buscando proteger o mercado local e evitar que importações de veículos prontos prejudiquem a indústria nacional.
A influência política e o futuro da indústria automotiva
Especialistas avaliam que a decisão sobre a cota terá impacto direto na competitividade do setor. Para a BYD, a manutenção da cota é temporária e faz parte de uma fase de transição, enquanto montadoras tradicionais alertam para o risco de desincentivar investimentos em tecnologia e produção local, por favorecer importações de veículos quase prontos, reduzindo empregos e inovação no Brasil.
Enquanto o debate prossegue, a expectativa é de que o governo tome uma decisão orientada por interesses políticos e econômicos, que pode alterar o cenário de transformação e competição na indústria automotiva brasileira.
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