Ricardo Magro, proprietário da antiga Refinaria de Manguinhos, agora Refit, possui uma rede de contatos consolidada que supera a necessidade de se expor publicamente. Embora resida em Miami, em meio a um estilo de vida luxuoso, sua empresa enfrenta sanções e investigações da Receita Federal envolvendo sonegações fiscais bilionárias. A trajetória de Magro ilustra como interesses empresariais e conexões políticas podem se entrelaçar de formas complexas e controversas.
A influência de Magro nos bastidores políticos
Com um acesso relevante a diferentes esferas do poder, Magro cultivou relacionamentos tanto na direita quanto no centrão, aproveitando-se do apoio de figuras influentes como Eduardo Cunha, ex-cacique do MDB, e mantendo laços com o PT. Este emaranhado de contatos tornou-se essencial para a expansão da sua empresa no mercado de combustíveis. Além disso, a proximidade com autoridades da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) possibilitou que o empresário tivesse maior flexibilidade em sua operação fiscal e tributária.
O histórico e as manobras fiscais
A história de Magro no setor começou em 2008, quando adquiriu a Refinaria de Manguinhos por apenas R$ 7 milhões, embora já atuasse na área como advogado tributarista. Durante sua atividade, Magro estabeleceu contatos com alguns dos mais influentes políticos do estado, incluindo Eduardo Cunha, que seria posteriormente investigado por suas ligações com práticas de sonegação fiscal.
Um dos marcos dessa relação foi um decreto assinado durante a breve gestão de Benedita da Silva em 2002, que alterou a cobrança do ICMS, facilitando operações que favoreceriam a Refinaria de Manguinhos. Essas manobras fiscais permitiram que o imposto fosse cobrado apenas na venda final dos combustíveis, ao invés de na refinaria, o que gerou espaço para fraudes e evasão fiscal estimadas em R$ 850 milhões entre 2002 e 2006.
O impacto das investigações da Receita Federal
O atual contexto da Refit é alarmante. De acordo com a Receita Federal, a rede de sonegação fiscal orquestrada por Magro gerou um prejuízo de mais de R$ 26 bilhões. Uma das práticas relatadas envolvia a importação de gasolina já refinada, mas classificada como óleo que ainda precisava de refino, resultando em uma redução considerável de tributos.
Além de questões fiscais, outras irregularidades estão sendo investigadas, incluindo suspeitas de adulteração de combustível. As manobras que Magro implementou ao longo dos anos mostram não apenas a vulnerabilidade de um setor que deve ser cada vez mais regulado, mas também como o poder econômico pode influenciar decisões políticas e administrativas.
O estilo de vida e atividades paralelas de Magro
Enquanto sua empresa enfrenta crises e investigações, Magro mantém um estilo de vida invejável em Miami, onde sua mansão, avaliada em R$ 18,7 milhões, anteriormente pertenceu ao astro do basquete LeBron James. Além de empresário, ele se dedica à música como DJ, utilizando o nome artístico “Orgam” e produzindo sets que compartilha na plataforma SoundCloud. Este hobby, segundo fontes, serve como uma forma de conexão com figuras influentes constantemente.
Redefinição de alianças e influência no governo
Más notícias não significam um isolamento total. Em eventos recentes, como o realizado em Nova York, Magro interagiu com figuras como o governador do Rio, Cláudio Castro, e o senador Ciro Nogueira, indicando uma tentativa de manter analogias com o poder latino-americano, mesmo diante das críticas do passado. Seu impacto no governo do estado é palpável, ao influenciar nomeações na ANP e ajudar na criação de seções tributárias mais favoráveis à sua empresa.
A identificação do atual chefe da Fazenda do Rio com a política sugere uma continuidade das práticas que possibilitaram que Magro florescesse durante anos. Esta história é um lembrete de como a busca por lucros pode levar a acordos controversos que, por sua vez, comprometem a economia local e, por extensão, o bem-estar da população.
Conclusão
O emaranhado de interesses e poderes que envolve Ricardo Magro reflete um sistema no qual a política se entrelaça com práticas empresariais que, ao mesmo tempo, buscam legitimidade e respostas. À medida que as investigações avançam e a Refit é obrigada a enfrentar o cerco da Receita Federal, fica evidente que a trajetória do empresário será um caso de estudo sobre a relação entre política e negócios no Brasil, revelando também as fragilidades da regulamentação e fiscalização em um setor tão vital para o país.
Momentos-chave na trajetória de Magro
- 2008 — Já atuante no setor, compra a Refinaria de Manguinhos, na qual exercia influência.
- 2010 — Polícia Civil anuncia investigação sobre a ‘máfia’ de sonegação e Eduardo Cunha é envolvido.
- 2016 — É preso por supostamente lesar o fundo de pensão Postalis por meio de emissões fraudulentas.
- 2017 — Em recuperação judicial, Manguinhos muda de nome para fazer um ‘rebranding’. Vira Refit.
- 2025 — Operação da Receita Federal atinge a empresa e fala em prejuízo de R$ 26 bilhões.



