Brasil, 2 de dezembro de 2025
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COP30 repete erros e desafia avanços na transição energética

A COP30, realizada em Belém, reafirmou a complexidade da transição energética global, ao mesmo tempo em que revelou desafios e contradições que dificultam avanços reais na redução do uso de combustíveis fósseis. Apesar de o evento ter sido considerado uma oportunidade de revitalizar o debate, a ausência de menções explícitas a petróleo, gás e carvão no documento final reforça a influência de interesses econômicos consolidáveis na manutenção da matriz fóssil.

Contradições na narrativa e atualidade da transição energética

Segundo Nicole Dalmiglio, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a transição energética envolve mudanças tecnológicas e profundas transformações econômicas, institucionais e geopolíticas. Contudo, os resultados das últimas conferências evidenciam uma disposição de centralizar interesses das indústrias do petróleo, gás e carvão, que buscam prolongar sua influência no cenário global. Na COP27, em Egito, apesar do avanço na criação de fundos para perdas e danos, a discussão sobre redução de combustíveis fósseis foi deixada de lado; na COP28, embora reconhecida a necessidade de diminuir essa dependência, não foram estabelecidas metas vinculantes.

Influência corporativa e limitações das negociações

Participantes independentes e reportagens internacionais revelaram o envolvimento direto de executivos de gigantes do petróleo, como ExxonMobil, Saudi Aramco, Shell, BP e TotalEnergies, nas negociações paralelas. Na COP29, no Azerbaijão, o acordo financeiro foi considerado insuficiente frente às promessas de mudanças necessárias, enquanto a participação da sociedade civil diminuiu por restrições em atos públicos, limitando a pressão por políticas mais ambiciosas.

O impacto da narrativa política na transição energética

A ausência de menções explícitas ao fim do uso de combustíveis fósseis nas propostas locais e globais demonstra o peso das influências econômicas na condução das negociações. Na COP30, a estratégia de omissão, que excluiu termos como “phase-out” (eliminação) e “phase-down” (redução), fragiliza a capacidade de orientar investimentos e regulações internacionais. Segundo especialistas, essa linguagem é fundamental para criar ambientes de segurança jurídica que promovam a transição, como ocorrido na COP26.

Consequências práticas da omissão na mudança de paradigma

Sem uma delimitação clara de limites ao uso de petróleo, gás e carvão, o setor financeiro e os governos continuam a justificar projetos de exploração sob a alegação de segurança energética ou transição gradual, atrasando a ampliação de energias renováveis. Segundo levantamento do Banco Europeu de Investimento, restrições a financiamentos fósseis passaram a ser uma rotina após negociações que priorizaram essa questão.

Nessa lógica, a ausência de compromissos vinculantes na COP30 serve para reforçar a manutenção da matriz fóssil, dificultando o avanço de energias renováveis e retardando a implementação de políticas concretas de mitigação do aquecimento global.

Resistência indígena e o papel social na cobertura da crise climática

A participação dos povos indígenas na COP30 foi uma das poucas ações com efeito político real. Como destacou Nicole Dalmiglio, lideranças indígenas reafirmaram que uma transição energética justa só se realiza na medida em que respeita a justiça territorial, a autodeterminação e a sustentabilidade social. Eles denunciaram mecanismos de “colonialismo verde”, como a expansão de commodities verdes e projetos de compensação de carbono que ignoram os direitos coletivos.

Essas vozes reforçaram que a verdadeira transição envolve respeito às desigualdades históricas e uma reforma na governança dos recursos naturais, em sintonia com os princípios de justiça social e ambiental.

Perspectivas e obstáculos futuros

Apesar do esforço diplomático, a COP30 revelou que interesses fortes ligados ao sistema energético baseado em combustíveis fósseis continuam a orientar as decisões a nível internacional. A ausência de metas específicas para fim do uso de petróleo, gás e carvão reforça a dificuldade de alinhar compromissos reais com as urgentes necessidades de redução de emissões.

Segundo especialistas, a mudança efetiva na matriz energética depende de um marco regulatório claro, de investimentos em energias renováveis e de uma pressão social que desafie as estruturas de poder das indústrias do carvão, petróleo e gás. A resistência política e econômica continua a ser um dos maiores obstáculos ao avanço da transição energética no Brasil e globalmente.

Essa realidade reforça a necessidade de fortalecer a luta por uma agenda climática que priorize a justiça territorial, a participação popular e a redução drástica do uso de combustíveis fósseis em todos os níveis de governança internacional e local.

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