Brasil, 2 de dezembro de 2025
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COP30 em Belém expõe tensão entre interesses privados e resistência popular

Evento revelou a prevalência de lobbies econômicos e as contradições na luta por justiça climática na maior floresta tropical do mundo

A COP30, realizada em Belém, foi palco de um intenso debate sobre o futuro do clima e os interesses que moldam as políticas ambientais no Brasil e no mundo. Apesar de sua simbologia, o evento revelou-se um espaço marcado por uma forte influência de interesses corporativos e financeiros, em detrimento de uma agenda genuinamente voltada à sustentabilidade e à justiça social.

Vitrine climática ou balcão de negócios?

Durante dez dias, a cidade amazônica recebeu representantes de governos, empresas do setor extrativista, bancos e ONGs. No entanto, a maior parte da infraestrutura e das negociações ocorreu na Blue Zone, espaço reservado às negociações oficiais, enquanto a Green Zone e estruturas paralelas serviram como palco de atividades influenciadas por interesses privados.

Entidades como Vale, Hydro, Bayer e empresas do setor financeiro, incluindo Itaú e BTG Pactual, protagonizaram iniciativas verdes, ao mesmo tempo em que enfrentam denúncias por impactos socioambientais e práticas desassociadas do discurso de responsabilidade social. Segundo o relatório “A COP dos Lobbies”, esses atores utilizaram o evento para fortalecer narrativas de sustentabilidade, apesar de seus passivos socioambientais.

Conflitos temporais e modos de existir

O evento evidenciou a disparidade entre o tempo acelerado do capital e o ritmo mais lento das populações tradicionais, indígenas e ambientais. Naomi Klein, na análise do cenário, definiu essa dinâmica como uma oposição de tempos em que o econômico tende a sobrepor-se às urgências ecológicas e sociais.

Na cidade, o rio, a floresta e o território foram vistos como corpos ou recursos de créditos de carbono, enquanto indígenas e comunidades tradicionais reafirmaram sua visão de terra como parte de suas vidas e culturas, resistindo ao processo de mercantilização. Líderes como Ailton Krenak alertaram para o risco de que a conferência se torne uma plataforma para negociações que privilegiam petróleo, madeira e minérios em prol de interesses extrativistas.

Resistência social e contradições internas

Apesar do forte aparato corporativo, movimentos sociais e indígenas organizaram a Cúpula dos Povos, envolvendo mais de mil entidades de 62 países. A Marcha Mundial pelo Clima, com cerca de 30 mil participantes, reforçou pautas de justiça ambiental, direitos humanos e críticas ao modelo econômico predatório, ressaltando a complexidade de um sistema que mistura interesses de Estado, mercado e sociedade civil.

No âmbito governamental, o cenário também revela contradições: enquanto ministros do Meio Ambiente promovem a transição energética, outros, como os de Minas e Energia e Agricultura, defendem a ampliação do petróleo e a flexibilização das regulações ambientais, refletindo uma disputa interna por direções distintas na política ambiental brasileira.

Impactos e perspectivas

As ações e discursos na COP30 destacaram os limites de uma conferência que, apesar de simbolicamente “da verdade”, muitas vezes se traduz numa gestão da culpa das elites, com promessas distantes e metas que perpetuam o sistema de destruição ambiental. A ameaça de um colapso ecológico, acelerado pelo aquecimento global e desmatamento, exige uma resposta mais efetiva e urgente.

Em Belém, a resistência se manterá enquanto as vozes indígenas, comunidades locais e movimentos sociais reafirmarem que a verdadeira sustentabilidade requer superação dos interesses extrativistas e a valorização de modos de vida baseados no cuidado com a Terra, além do compromisso político de cumprir metas de justiça social e ambiental.

Para saber mais sobre o tema, consulte o relatório “A COP dos Lobbies”, que detalha as influências corporativas no evento.

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