Em meio à intensa investigação sobre descontos indevidos em aposentadorias e ao recorde de 2,8 milhões de pedidos pendentes de análise no INSS em outubro, uma disputa entre as principais autoridades do setor tem agravado a crise. O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, e o presidente do instituto, Gilberto Waller, encontram-se em conflito aberto, revelando tensões internas que impactam o funcionamento do órgão.
Crise interna e desentendimentos no INSS
As desavenças começaram após Waller solicitar a saída da vice-presidente do INSS e diretora de Tecnologia da Informação, Léa Bressy Amorim, acusando-a de proximidade com o ex-presidente Alessandro Stefanutto, demitido e preso na Operação Sem Desconto da Polícia Federal, que investiga fraudes contra aposentados.
O ministro respondeu em ofício, afirmando que as alegações contra Léa Waller eram genéricas e que ela foi indicada por ele próprio para a posição de número 2 do INSS. Segundo fontes próximas ao presidente do instituto, Waller está no limite, aguardando uma definição sobre sua permanência no cargo.
Fila cresce mesmo com automação
Apesar dos esforços de automação na análise de pedidos, a fila do INSS só aumenta. Em outubro, o país registrou 2,86 milhões de processos em análise, especialmente relacionados a benefícios mais complexos, como auxílio por incapacidade e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
A Secretaria de Previdência justifica o volume elevado por mudanças legislativas e pelo perfil demográfico da população, destacando que a análise de pedidos muitas vezes depende de outros órgãos federais, o que dificulta a agilidade do processo.
Limitações da automação na análise de pedidos
Especialistas apontam que a automação implantada pelo INSS tem efeito limitado. Tatiana Garcia Panema, do escritório Durão & Almeida, afirma que a tecnologia não consegue interpretar documentos mais detalhados ou avaliar condições clínicas complexas, exigindo avaliação humana para maior precisão.
Fatores que dificultam a gestão da fila
Segundo especialistas, há um déficit de servidores, alta judicialização e disparidades regionais. Fabricio Dantas, da Escola de Administração Pública da FGV, explica que essas questões resultam em atrasos contínuos e maior pressão sobre análises mais complexas, piorando o cenário geral.
O Ministério da Gestão e Inovação afirma que está reforçando o quadro de servidores por meio de concursos públicos e de esforços de redistribuição de tarefas, além de ampliar o atendimento remoto. O secretário Benedito Brunca destacou que a escassez de profissionais é o maior obstáculo para acelerar os processos.
Impacto na vida dos aposentados
Milhares de aposentados aguardam respostas do INSS há meses. Um exemplo é a técnica de enfermagem Marcella Rosa, de 65 anos, que há cinco meses tenta obter o benefício de BPC. Sem facilidade com tecnologia, ela acompanha o andamento pelo telefone, sempre ouvindo que seu benefício está em análise, sem previsão de resposta.
O aumento das filas e a lentidão no processamento refletem um problema que vai além das questões administrativas, podendo gerar ainda mais judicializações e insatisfação social.
Perspectivas futuras
O governo afirma que está trabalhando na reconstrução das políticas públicas previdenciárias e que uma nova fase de concursos deve reforçar o quadro de funcionários. Contudo, as disputas internas e a elevada demanda continuam dificultando soluções rápidas, enquanto a fila só aumenta.
Para acompanhar o andamento dessas mudanças, o público deve ficar atento às próximas ações do Ministério da Previdência e às novas medidas de gestão do INSS, que tentam equilibrar technicalidade e urgência na análise de benefícios.
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