O boom de exploração de petróleo e gás na região de Vaca Muerta, na Argentina, transformou profundamente a cidade de Añelo, antes dedicada à agropecuária, especialmente à criação de cabras. Desde o acordo entre YPF e Chevron em 2013, a cidade passou por uma rápida expansão populacional e econômica, impulsionada pelo avanço da exploração não convencional de hidrocarbonetos.
Transformação e crescimento em Añelo
Antes do boom, Añelo era uma cidade de cerca de 3 mil habitantes, marcada pela calmaria do interior provincial. Hoje, conta com aproximadamente 12 mil moradores permanentes e uma vastidão de trabalhadores da indústria petrolífera, que chegam principalmente de outras regiões do país. A cidade cresceu tanto em população quanto em infraestrutura, com novos bairros, hotéis e uma crescente atividade comercial.
Impacto nas vias e na economia local
O acesso a Añelo, antes de toda essa transformação, era precário, com estradas em mau estado de conservação. Segundo o borracheiro Favio Javier Jiménez, o crescimento desordenado elevou o tráfego de veículos pesados — em média, 24.956 veículos por dia, incluindo 6,4 mil caminhões — sobrecarregando as vias e provocando acidentes e mortes, algo incomum na região.
Jiménez, que chegou à região em 1994, relata que a cidade era pequena, sem serviços básicos como gás e água. Com o advento do fracking e a descoberta de Vaca Muerta, as demandas por infraestrutura aumentaram exponencialmente, levando a uma reforma urgente nas estradas e nos serviços públicos.
Desafios e convivência na nova Añelo
Crescimento populacional e moradia
A expansão também trouxe dificuldades na oferta de habitação e serviços. A demanda por moradia levou a loteamentos no planalto — uma área árida e de difícil acesso —, com imóveis alugados a preços elevados, chegando a cerca de R$ 11,9 mil mensais para unidades similares às de Neuquén, mas com infraestrutura precária. Moradores enfrentam dificuldades com a infraestrutura básica, como limpeza e transporte.
Segundo a imobiliária Demaría Hermanos, muitas famílias chegam a Añelo em busca de trabalho, mas enfrentam obstáculos para se estabelecer devido aos altos custos de moradia e à insuficiência de serviços locais. O esforço para integrar esses novos moradores ao mercado de trabalho ainda é um desafio.
Educação e saúde em meio ao crescimento
A escola secundarista CPEM 39, que atendia cerca de 270 alunos em 2018, hoje recebe mais de 500 estudantes, muitos vindos de diferentes regiões do país e de outros países, como Paraguai, Bolívia e República Dominicana. O aumento desordenado populacional tem pressionado a infraestrutura escolar, levando à utilização de contêineres como salas de aula.
Na saúde, a falta de profissionais especializados é uma realidade. O hospital local conta com apenas 10 médicos clínicos gerais, com dificuldades para atrair especialistas. A chegada de uma clínica particular no planalto pode ser um passo importante para melhorar o atendimento.
Perspectivas e desafios futuros
Para o prefeito Fernando Banderet, o crescimento de Añelo tende a se consolidar, ampliando a comunidade e diversificando a economia, que atualmente depende fortemente da indústria petrolífera. No entanto, há preocupações ambientais relacionadas ao fracking e ao consumo de água, além do impacto social do crescimento acelerado.
O diretor do colégio Cabrera destaca a mudança na mentalidade dos estudantes, que antes queriam sair de Añelo para estudar e trabalhar em grandes centros, e hoje preferem permanecer na cidade, atraídos pelos altos salários do setor petrolífero. Ainda assim, é imprescindível pensar na sustentabilidade do crescimento para que a infraestrutura e os serviços também possam evoluir em ritmo compatível.
Apesar dos desafios, a riqueza gerada por Vaca Muerta tem potencial para transformar positivamente a região e solucionar problemas econômicos e energéticos da Argentina, atualmente autossuficiente na produção de petróleo e gás desde 2020.
Para saber mais detalhes sobre o impacto de Vaca Muerta na Argentina, acesse a matéria completa no G1.


