Investidores globais de renda fixa estão percebendo alguns mercados emergentes como mais seguros do que muitos países de alta renda, um fenômeno que reflete mudanças significativas na avaliação de risco e potencial de retorno na cena internacional. A tendência é mais evidente em títulos soberanos e corporativos de países com classificação AA, como Emirados Árabes Unidos, Catar, Taiwan, Coreia do Sul e República Tcheca, que vêm apresentando retornos superiores aos dos países desenvolvidos neste ano.
Razões por trás do novo apetite por mercados emergentes
Segundo analistas, essa preferência ocorre principalmente devido ao progresso feito por regiões em desenvolvimento na redução da dívida pública, controle da inflação e melhora nos saldos em conta-corrente. Essas condições têm contribuído para a baixa dos prêmios de risco e para uma convergência de custos de captação com países considerados tradicionais portos seguros.
Desempenho econômico e risco de crédito
Em 2025, os mercados emergentes registraram retornos totais mais fortes do que créditos de países com mesma classificação, tanto em dólares quanto em moedas locais. Além disso, o custo de captação de títulos em dólares por algumas dessas nações se aproxima dos níveis dos Estados Unidos, historicamente considerados uma referência de segurança no mercado de renda fixa.
Os spreads de títulos de países com classificação AA, como a Coreia do Sul, atingiram registros históricos de apenas 31 pontos-base, e a demanda por esses títulos ficou mais acentuada, com valores de spread abaixo dos observados há sete anos.
Fatores macroeconômicos favoráveis aos emergentes
Fatores como inflação controlada — abaixo dos níveis das economias avançadas, uma situação rara nos últimos 35 anos — e superávits em conta-corrente ajudam a sustentar essa percepção de maior segurança. Enquanto as economias desenvolvidas continuam a enfrentar déficits fiscais elevados, países emergentes desfrutam de crescimento mais forte, com previsão de expansão de cerca de 2,5 pontos percentuais a mais neste ano.
Segundo Marco Ruijer, gestor da William Blair, é irônico que antes considerados caloteiros, muitos mercados emergentes atualmente apresentam os melhores indicadores fiscais, enquanto os países ricos acumulam déficits fiscais persistentes.
Investimentos e estratégias atuais
De acordo com analistas, muitos investidores estão intensificando suas alocações em títulos de mercados emergentes de alta qualidade, como pesos mexicanos, títulos locais do Chile e papéis denominados em dólar da África do Sul, impulsionados também pela fraqueza do dólar e pelas taxas de juros mais baixas nesses países.
Este ano, o desempenho do mercado de dívida soberana em emergentes tende a ser o melhor desde antes da pandemia, com ganhos robustos e maior atratividade para operações de carry trade, que consistem em tomar financiamento em moedas de juros baixos para investir em economias de juros altos.
Convergência de risco e riscos futuros
Apesar do otimismo, há sinais de que os investidores estão considerando uma convergência de risco mais ampla, incluindo até economias com notas de crédito mais baixas. Países como a China, que precificou recente emissão de três anos em dólar sem prêmio adicional, e Abu Dhabi, com títulos de 10 anos a spreads mínimos, exemplificam essa tendência.
Contudo, o universo dos mercados emergentes inclui diversos créditos frágeis, principalmente na África e na América Latina, onde riscos de sobreendividamento e instabilidade política permanecem ativos. Investidores tendem a tratar esses países como um grupo único, vendendo indiscriminadamente quando o sentimento global piora.
Especialistas destacam que o fortalecimento recente do mercado reflete justamente uma melhora estrutural desses países, que estão deixando para trás a antiga imagem de risco elevado. Como explica Nick Eisinger, chefe de estratégia de dívida soberana de emergentes na JPMorgan Asset Management, “o mercado finalmente percebeu os avanços estruturais ocorridos ao longo dos anos nesses países.”
Com o cenário favorável, a expectativa é de que os mercados emergentes continuem a desempenhar papel importante na diversificação de carteiras globais, especialmente à medida que o contexto macroeconômico global apresenta sinais de mudança em favor desses países.
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