Teresina, 4 de fevereiro de 2025
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China avança na América Latina: o efeito dominó do furacão Trump.2

Para a América Latina, a guerra tarifária representa um desafio, mas também uma oportunidade.
EUA pode estar pavimentando o caminho para uma nova era de protagonismo econômico da América Latina, com a China no centro das atenções. Bandeira da China. Foto: Reprodução

As políticas protecionistas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltaram ao centro das tensões comerciais globais. Em seu novo mandato, Trump utiliza tarifas alfandegárias não apenas como ferramenta de proteção econômica, mas também como instrumento de coerção política. A estratégia, porém, pode ter um efeito colateral significativo: o fortalecimento da China e do BRICS na América Latina.

A recente disputa entre EUA e Colômbia ilustra a tática agressiva de Trump. Em 26 de janeiro de 2025, o presidente colombiano Gustavo Petro recusou voos de deportados colombianos, citando condições desumanas de transporte. Como retaliação, Trump impôs tarifas de 25% sobre produtos colombianos e ameaçou elevá-las para 50%. Após negociações, a Colômbia aceitou receber os deportados, desde que fossem transportados por aviões colombianos, resultando na suspensão da medida punitiva.

A tensão não parou por aí. O México, que exporta mais de 75% de seus produtos para os EUA, foi outro alvo de Washington. Com tarifas de 25% impostas a partir de fevereiro de 2025, a presidente Claudia Sheinbaum alertou para impactos negativos na economia americana e anunciou contramedidas, incluindo impostos sobre produtos agrícolas dos EUA e restrições a empresas americanas. Além disso, intensificou conversas com a China para reduzir a dependência econômica dos Estados Unidos.

Brasil se posiciona e China responde

O Brasil, principal exportador mundial de commodities como soja e carne bovina, também se vê no centro da disputa comercial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que responderá a qualquer sanção comercial com medidas recíprocas. O país avalia a diversificação de mercados e estreita relações com a China, que já é seu maior parceiro comercial.

A China, por sua vez, reagiu imediatamente às tarifas adicionais de 10% impostas por Washington. Além de restringir a importação de produtos agrícolas americanos, Pequim aumentou tributos sobre semicondutores e componentes eletrônicos dos EUA. Simultaneamente, anunciou que levará o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), embora a crise no órgão desde 2019 torne incerta a resolução da disputa.

Canadá endurece retaliação

Outro país afetado foi o Canadá, que enfrenta tarifas de 25% sobre produtos gerais e 10% sobre itens energéticos. O primeiro-ministro Justin Trudeau respondeu com uma retaliação de 25% sobre bens americanos no valor de US$ 107 bilhões, incluindo cerveja, vinho, uísque, frutas e até veículos Tesla, um ataque direto ao aliado de Trump, Elon Musk.

Especialistas alertam que tais medidas podem reduzir o PIB canadense em até 2,4% no primeiro ano, mas Trudeau se mantém firme, argumentando que o Canadá não cederá à pressão econômica de Washington.

Latino-americanos buscam alternativas

Para a América Latina, a guerra tarifária representa um desafio, mas também uma oportunidade. Com a competitividade dos produtos americanos em queda na China, exportadores latino-americanos podem preencher essa lacuna. México, Brasil e Argentina já negociam maior cooperação com Pequim e Nova Délhi, ampliando laços comerciais com os BRICS.

Trump também declarou que pretende excluir a Nicarágua do Tratado de Livre Comércio da América Central e República Dominicana (CAFTA-DR). A medida levou os países da região a intensificar o debate sobre diversificação de parceiros comerciais e fortalecimento da coordenação regional.

A consolidação do BRICS+

A estratégia de Trump pode, ironicamente, fortalecer o BRICS+. O bloco, que já conta com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, adicionou Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia em 2024 e 2025. Há negociações para uma plataforma de investimentos conjuntos entre os países membros, uma resposta direta às ameaças de tarifas de 100% de Trump contra o grupo.

A China, que já lidera grandes investimentos na América Latina em infraestrutura, energia e tecnologia, vê na escalada protecionista dos EUA uma janela para ampliar sua influência na região. O megaprojeto portuário de Chancay, no Peru, financiado pela estatal chinesa COSCO Shipping, é um exemplo do avanço asiático na região.

Impacto global e o futuro da América Latina

O isolacionismo tarifário de Trump pode redesenhar as relações comerciais globais. A curto prazo, os EUA podem aumentar sua arrecadação e pressionar aliados. No médio e longo prazo, porém, a postura agressiva pode acelerar a transição da América Latina para uma nova ordem geopolítica.

A crise entre EUA e Colômbia sinalizou um novo paradigma: tarifas alfandegárias como armas políticas. A América Latina, no entanto, não se apresenta mais como um simples espectador. Com um mercado cada vez mais conectado ao BRICS+, o continente está diante de uma chance histórica de reduzir sua dependência de Washington e redefinir seu papel no comércio global.

O embate tarifário de Trump pode ter um efeito oposto ao desejado. Ao invés de reafirmar a hegemonia dos EUA, pode estar pavimentando o caminho para uma nova era de protagonismo econômico da América Latina – com a China no centro das atenções.

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