Na escola pública de uma cidade brasileira, uma quadra se enche de moradores e alunos ao pôr do sol para discutir o sistema de energia solar instalado no telhado. A iniciativa, que serve como exemplo de geração distribuída, evidencia como a energia pode deixar de ser invisível e se tornar parte do cotidiano da comunidade, promovendo uma transição energética mais justa e participativa.
Transformação pela descentralização da energia
Quando a energia “mora na vizinhança”, ela se torna mais acessível, compreensível e participativa. Essa mudança de paradigma é fundamental para fortalecer vínculos, estimular a educação e ampliar o protagonismo social. A geração distribuída, por meio de cooperativas solares e comunidades energéticas, não é apenas uma inovação técnica, mas uma oportunidade de transformar a relação das pessoas com a energia, envolvendo-as em decisões e ações concretas.
Energia, educação e cidadania ativa
Projetos como o Procel Educação, da Eletrobras, e o Energia que Transforma, do Instituto Ideal, mostram que escolas públicas podem ser espaços estratégicos para ensinar o uso racional da energia, sustentabilidade e fontes renováveis. Ao entenderem esses conceitos, alunos influenciam suas famílias, bairros e comunidades, tornando a energia uma questão de cidadania crítica e ativa.
Exemplos de boas práticas no interior do Brasil
Em Icaraí de Minas (MG), projetos de microgeração solar em condomínios populares reduziram significativamente os custos das famílias de baixa renda, promovendo inclusão social e senso de pertencimento. Em Palmas (TO), a adoção de ônibus elétricos em regiões específicas mostrou que soluções sustentáveis podem ser viáveis mesmo em áreas com clima quente e infraestrutura limitada. Sistemas solares instalados em escolas também contribuem para o aprendizado prático, estimulando a consciência ambiental dos estudantes.
Impactos da descentralização na sociedade
Ao gerar, gerenciar e compartilhar energia localmente, comunidades deixam de depender de sistemas centralizados, que muitas vezes parecem distantes. A política também se torna mais aberta, pois as decisões sobre investimentos e uso da energia passam a ser coletivas. Segundo o Plano Nacional de Energia 2055, o crescimento dos recursos energéticos distribuídos e o engajamento do consumidor serão essenciais para uma transição sustentável no Brasil, assim como na União Europeia, onde iniciativas de autoconsumo coletivo têm fortalecido práticas de cidadania.
Desafios e possibilidades
Para que a descentralização seja eficaz, é preciso popularizar conceitos como geração distribuída, prosumidor e comunidades energéticas. A proximidade do consumidor com o sistema energético favorece o equilíbrio, a eficiência e o protagonismo social. A complementaridade entre recursos como solar e eólico também potencializa essa transformação, que deve acontecer sobretudo na vizinhança — espaço onde a mudança faz sentido e ganha força.
Perspectivas de avanço no Brasil
Regiões com forte potencial solar, como o interior de Minas Gerais e o Tocantins, já dão sinais de que soluções comunitárias podem fortalecer a inclusão energética e a sustentabilidade. O engajamento de moradores, escolas e associações locais reflete uma transformação que extrapola o aspecto técnico, chegando à educação, à política e à cultura. Assim, a energia deixa de ser um serviço distante para se tornar um elemento vivo no território, nas ações e na história de cada comunidade.


