A crescente utilização do caso argentino, especialmente a ascensão de Javier Milei, como exemplo para o Brasil mostra uma discussão superficial e predominantemente ideológica no cenário nacional. Muitos empresários e opositores veem em Milei um modelo de coragem e ousadia, esquecendo-se das diferenças reais entre os contextos de ambos os países.
Diferenças de contexto entre Argentina e Brasil
Embora o exemplo de Milei seja provocativo, é fundamental reconhecer que as condições econômicas, políticas e sociais de Argentina e Brasil divergem significativamente. Entre novembro de 2023 e agosto de 2025, o PIB argentino cresceu 3,3%, enquanto o brasileiro avançou 5,0%, indicando que há fatores estruturais que influenciam esses resultados, além das ações de cada governo.
O que a Argentina realmente fez
Reconheço que Milei promoveu um ajuste fiscal relevante. Porém, não há um “milagre” argentino, como se quer fazer crer. O país tem utilizado malabarismos com divisas provenientes de mecanismos temporários, como o “blanqueo” de capitais, empréstimos do FMI e créditos dos EUA. Quando chegue o momento de pagar a dívida em 2027, as dúvidas sobre a capacidade de honrar esses compromissos permanecem.
Reflexões sobre política e economia
Uma lição importante que a Argentina deixa é a de que o apoio de um presidente é decisivo para a implementação de políticas fiscais duras. No Brasil, however, as ações de ajuste têm sido tímidas e mal recebidas, com propostas frequentemente bloqueadas pelo próprio governo ou atacadas por grupos com interesses políticos.
O papel do presidente e o ajuste fiscal
Segundo especialistas, a ausência de um compromisso presidencial forte tem dificultado qualquer tentativa de redução de gastos públicos significativa. Para completar, mudanças nesse sentido ainda enfrentam forte resistência nas redes sociais e na militância digital do PT.
Impactos futuros e desafios do Brasil
Ao contrário do que alguns acreditam, fazer um ajuste de 4,5% do PIB — como Milei fez na Argentina, mesmo com inflação elevada — não é tarefa fácil para o Brasil. Para isso, seria necessária uma articulação política sólida e uma capacidade de enfrentar resistências internas profundas.
Em vez de buscar inspiração na Argentina, a oposição brasileira deveria aprender com o fracasso do peronismo — que durante anos criticou sem apresentar propostas concretas, limitando-se à retórica de risco de desastre. Aqui, a inércia e a ausência de um projeto consistente dificultam qualquer alternativa ao governo Lula.
Como avançar na política brasileira
Pessoas que se opõem a Lula precisam desenvolver programas bem estruturados, com começo, meio e fim. Sem isso, continuarão a perder espaço e a ver o país ficar mais distante de soluções efetivas, assim como acontece na Argentina, onde a oposição é marcada por discursos vazios e falta de propostas concretas.
Para uma mudança eficaz, é necessário que a oposição queime alguns neurônios e deixe de lado a preguiça intelectual. Uma política alternativa só se constrói com esforço, análise séria e compromisso com o país.
Para mais detalhes sobre essa discussão, acesse a coluna de Fabio Giambiagi: Fonte original.


