A crise no fornecimento de chips para a indústria automotiva brasileira começa a se normalizar com a retomada gradual das exportações da fabricante chinesa Nexperia, mas o risco de desabastecimento ainda existe, alertou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet. A informação da entidade é de que as exportações estão acontecendo de forma lenta, o que mantém a preocupação, especialmente em relação ao abastecimento de semicondutores.
Retomada lenta das exportações e continuidade do risco de crise
Durante coletiva em Belém, onde acontece a COP30, Calvet afirmou que a redução do risco de desabastecimento é resultado das ações do governo chinês, porém ressaltou que a retomada das exportações não ocorreu de forma rápida. “O processo (de exportação) é lento e gradual, por isso a vigilância deve continuar semana após semana, se não diariamente”, explicou. Fonte.
Impactos variados no setor automotivo
Calvet destacou ainda que as empresas do setor não seriam afetadas de maneira uniforme diante da crise. Algumas possuem estoques maiores, outras dependem mais dos chips da Nexperia, o que resultaria em paralisações não simultâneas. “Fica a impressão de que todo o setor pararia ao mesmo tempo, mas isso não é verdade. Cada uma tem seus planejamentos de produção”, explicou.
Esforços diplomáticos e avanços na liberação de semicondutores
Segundo o presidente da Anfavea, a sinalização positiva veio após negociações com os governos brasileiro e chinês. A China informou que concederia uma facilitação (“fast track”) para a liberação de semicondutores, inclusive para empresas brasileiras com fábricas na China. Calvet comentou que conversou com várias empresas, que relataram uma chegada lenta dessas exportações, o que mantém a preocupação quanto aos possíveis impactos na produção.
Origens da crise e o conflito diplomático
A crise teve início após a escalada de um conflito diplomático entre Holanda e China relacionado à fabricante de chips Nexperia. O governo holandês vetou a influência dos acionistas chineses na empresa, alegando riscos à segurança nacional, após pressões dos Estados Unidos, que também impuseram restrições comerciais à companhia. Como reação, Pequim bloqueou a comunicação entre a Nexperia e sua fábrica na China, afetando o fornecimento de chips para o setor automotivo no Japão e na Europa.
Dados recentes da produção de veículos
Em outubro, a produção de veículos chegou a 247,8 mil unidades, registrando uma queda de 0,5% em relação ao mesmo mês de 2024. No acumulado de janeiro a outubro, a produção totalizou 2,2 milhões de unidades, alta de 5,2% na comparação anual. Os emplacamentos em outubro somaram 260,7 mil unidades, uma redução de 1,6% frente ao mesmo período do ano passado, mas com avanço de 2,2% no acumulado do ano, chegando a 2,17 milhões de veículos comercializados.
Perspectivas para o setor de caminhões
A queda nas vendas de caminhões preocupa a Anfavea, que aponta uma retração superior a 8% nos emplacamentos entre janeiro e outubro de 2025. Mesmo com expectativa de alta na safra e crescimento econômico, a entidade atribui a forte redução aos juros elevados, que dificultam o crescimento desse segmento, além de ausência de incentivos específicos, ao contrário do que ocorreu com veículos leves por meio do programa Carro Sustentável.
Apesar de a produção de veículos leves se manter relativamente estável, a falta de medidas específicas para o setor de pesados reforça o desafio enfrentado pela indústria automotiva brasileira. O setor aguarda novos sinais de avanço na liberação de semicondutores para evitar novas paralisações.



