A escolha do deputado Capitão Derrite (PP-SP) como relator do Projeto de Lei (PL) Antifacção está gerando uma série de controvérsias dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora aliados de Lula neguem qualquer tipo de acordo prévio entre o governo federal e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), o posicionamento de Derrite levanta questões sobre a política de segurança pública do governo e a estratégia legislativa em curso.
Falta de consenso entre os apoiadores do governo
De acordo com informações obtidas pelo jornal O Globo, integrantes do governo afirmaram que a escolha de Derrite foi uma decisão imprevista e não tinha o apoio desejado entre os membros da base governista. Na avaliação deles, a nomeação é considerada “muito ruim”, uma vez que Derrite é um crítico da política de segurança pública implementada por Lula. Este PL é uma das principais apostas do governo para responder à população após a tragédia em Rio de Janeiro, onde uma operação policial resultou na morte de 121 pessoas no último dia 28 de outubro.
A urgência na análise do projeto
O governo está buscando acelerar a análise do PL Antifacção para garantir sua tramitação no Congresso. Espera-se que o projeto seja debatido na próxima semana. Contudo, uma outra proposta – o PL Antiterrorismo – que também está em pauta, não possui uma definição clara quanto à sua votação, gerando incertezas sobre o futuro legislativo das propostas de segurança pública.
Divisões na estratégia legislativa
Apesar das tensões e da resistência dentro do governo, Motta, ao escolher Derrite como relator, acabou por sinalizar uma abertura ao bolsonarismo, uma movimentação que não agradou a todos. Um pedido da oposição para unificar os dois projetos em um único texto foi negado pelo presidente da Câmara, o que indica um compasso tenso nas relações entre os diferentes grupos políticos.
O deputado Danilo Forte (União-CE), autor do projeto antiterrorismo, havia solicitado que suas propostas fossem apensadas, mas Motta optou por direcionar o apensamento do PL de Forte a outra proposta antiterrorismo, de autoria do deputado Sanderson (PL-RS). Essa decisão pode complicar ainda mais os diálogos entre as distintas vertentes ideológicas, refletindo o jogo político complexo que permeia a atual legislatura.
O impacto da operação policial no contexto do projeto
O cenário se torna ainda mais crítico por conta da operação policial no Rio de Janeiro, que trouxe à tona debates sobre a efetividade das políticas de segurança existentes e a necessidade de uma resposta mais robusta por parte do governo federal. O PL Antifacção, que propõe medidas severas contra organizações criminosas, surge como uma resposta imediata ao clamor popular por mais segurança.
No entanto, a forma como o governo está lidando com a questão da classificação das facções é um ponto de discórdia. Enquanto o governo apoia a ideia de tratar membros de organizações como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como “organização criminosa qualificada”, há resistência em reconhecer as facções como grupos terroristas, o que poderia acentuar sanções e intervenções internacionais.
A voz do governo e a linha de frente da resistência
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, comentou recentemente sobre a posição do governo, declarando que “o terrorismo tem objetivo político e ideológico” e que equiparar facções criminosas a grupos terroristas poderia abrir precedentes para intervenções externas. Essa visão é uma manifestação clara das preocupações sobre a soberania nacional e os desdobramentos de uma política de segurança agressiva.
Com as tensões e as incertezas pairando sobre o Legislativo, o desenrolar do debate em torno do PL Antifacção e do PL Antiterrorismo será um termômetro para medir a capacidade do governo de navegar pelo emaranhado de reivindicações políticas e sociais, além de demonstrar a resistência dos diversos segmentos políticos existentes no Brasil.
Aguarda-se agora a forma como essas discussões que envolvem tanto o governo quanto a oposição serão tratadas nas próximas sessões, e qual será o impacto real na segurança pública e na agenda legislativa de Lula.



