Brasil, 20 de julho de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Academias populares de boxe resistem debaixo de viadutos em SP

Projeto social de boxe em São Paulo resiste a dificuldades e promove inclusão social entre moradores de rua e jovens.

Na Zona Leste de São Paulo, sob a sombra de viadutos e cercados pelo barulho do trânsito, pugilistas amadores se reúnem em academias populares de boxe. Esses espaços têm sido fundamentais para promover valores como disciplina, resiliência e superação entre seus frequentadores. Após um período desafiador, marcado por interdições e ameaças de despejo, o projeto social liderado pelo ex-pugilista Nilson Garrido está com um novo ar e renova a esperança de muitos.

Retorno de um espaço de luta e superação

O projeto social, idealizado por Nilson Garrido, enfrentou bloqueios por dois anos devido à falta de um Termo de Permissão de Uso (TPU) regularizado. Em meio à disputa por espaço, onde uma cooperativa de reciclagem também pleiteava o uso da área, o projeto parecia ameaçado. Agora, com apoio de voluntários, uma limpeza realizada ao longo de duas semanas possibilitou a reabertura da academia, que já acolhe diversos jovens e adultos.

Fábio Garrido, filho de Nilson e atual coordenador do projeto, expressa sua determinação em manter as atividades. “A permissão oficial ainda não chegou, mas estamos trabalhando com a garra de quem encontrou aqui um abrigo e uma nova oportunidade. O boxe é nosso combustível no dia a dia”, conta Fábio.

A importância do esporte para os excluídos

Desde a sua fundação em 1999, a academia já ajudou a transformar a vida de moradores de rua, ex-presidiários e jovens em risco. “Em 2004, após sofrer um grave acidente em um combate, meu pai fez uma promessa a Deus, que culminou na criação desse projeto voltado para aqueles que foram excluídos da sociedade”, relata Fábio, emocionado.

Mesmo sem uma documentação regularizada, a luta do projeto pelo reconhecimento e apoio é clara. “Quando reformaram o viaduto, não cuidaram da vedação e a infiltração estragou nossos equipamentos. Estamos aqui desde 2007, mas a ajuda ainda é escassa”, desabafa. Para contornar essa situação, ele faz apelos por doações de equipamentos de musculação e materiais para o treinamento.

Histórias de transformação e dignidade

Uma das histórias mais inspiradoras é a de Fernando Menoncello, ex-morador de rua que, graças ao boxe, se tornou campeão na modalidade amadora e hoje coordena sua própria academia. “Este lugar é meu refúgio, um espaço que me ensinou a ser alguém melhor. Lembro-me de quando estava nas ruas, pedindo comida. Aqui, eu recuperei minha dignidade”, compartilha Fernando, que agora ajuda a levar o esporte a crianças e adolescentes.

Fernando tem um papel ativo na formação de novas gerações, orientando jovens a trilharem caminhos positivos através do boxe e inspirando-os a se dedicarem aos sonhos. “Ver uma nova geração recebendo medalhas e fazendo parte de seleções é uma recompensa enorme”, disse ele.

Desafios legais e oportunidades perdidas

Os espaços públicos em São Paulo, como viadutos e pontes, são regidos por contratos precários. Mariana Levy, advogada especialista em direito urbano, explica que essa fragilidade nas permissões impede que projetos como o de Garrido tenham segurança jurídica a longo prazo. “Esses contratos podem ser revogados a qualquer momento. Precisamos de políticas públicas mais sólidas que apoiem esses projetos”, argumenta.

Atualmente, apenas cerca de 25 dos 185 viadutos na cidade abrigam iniciativas culturais e esportivas, segundo a Prefeitura. Embora programáticos como o “Baixos de Viaduto” exista, a falta de critérios estruturados impede um uso mais amplo e eficiente desses espaços. “Não conheço nenhuma política municipal que priorize isso. O que existe é um esforço isolado, sem continuidade”, complementa Mariana.

Esporte na periferia e transformação social

Às margens do processo formal, muitos ex-atletas estão criando iniciativas próprias, como João Ferreira, que construiu sua academia no bairro de Perus. Ferreira, que também enfrentou dificuldades em sua juventude, relembra que precisava sair do bairro para treinar e, agora, busca proporcionar aos jovens a oportunidade de praticar esportes perto de casa. “Meu lema é ensinar os valores do boxe, e não apenas as técnicas do esporte”, explica João. “Eu ajudo quem precisa, não cobro nada. É um trabalho feito de coração”.

Para muitos jovens, como o Antonio Soares, de apenas 12 anos, o boxe representa uma luz no fim do túnel, proporcionando disciplina e afastando-os de caminhos perigosos. “O boxe me trouxe felicidade, foco e amizades. Melhorou minhas notas e me livrou do bullying”, diz ele, ressaltando a importância do suporte que encontra no ambiente escolar e na academia.

As academias populares de boxe não apenas resistem, mas prosperam em meio a desafios. Com um papel fundamental na construção de um futuro melhor para muitos jovens, esses espaços continuam a lutar pela sua permanência, transformando as vidas daqueles que os frequentam e dando esperança a comunidades carentes em São Paulo.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes