No dia 17 de novembro, Campinas (SP) fez história ao receber pela primeira vez o trinta-réis-ártico (Sterna paradisaea), uma ave marinha famosa por sua impressionante migração. Este evento surpreendeu não apenas a população local, mas também especialistas em ornitologia, considerando que a ave foi vista em uma área de tratamento de água próximo à estrada da Rhodia, que conecta Campinas a Paulínia.
A importância do registro
Esse avistamento é o décimo da espécie no estado de São Paulo, sendo a maioria registrada em regiões litorâneas. De acordo com Fernando Igor de Godoy, biólogo responsável pelo registro, a presença do trinta-réis-ártico em uma área tão distante do litoral é considerada uma raridade. “Esse é um registro ocasional, já que a espécie tem uma rota migratória predominantemente costeira”, afirma Godoy.
Características do trinta-réis-ártico
O trinta-réis-ártico se destaca por sua habilidade migratória, percorrendo entre 30 e 40 mil quilômetros anualmente, embora os trajetos possam chegar até 80 mil km. Isso equivale a duas voltas completas ao redor da Terra. A ave nasce no Polo Norte e, anualmente, deixa regiões como Alasca, Groenlândia e Sibéria para buscar temperaturas amenas no Polo Sul, onde inverna.
Fernando descreve a aparência da ave durante o avistamento: “O indivíduo exibia uma plumagem de descanso, semelhante tanto ao trinta-réis-ártico quanto ao trinta-réis-boreal. Na observação, notei a cauda mais longa, característica dessa espécie.” Além disso, a ave se apresentou de forma solitária, forrageando ao longo da área de tratamento. “Ela parecia tranquila, mantendo-se em voo leve e delicado”, complementa o biólogo.
Comportamento e alimentação
Como um hábil predador em ambientes marinhos, o trinta-réis-ártico se alimenta principalmente de pequenos peixes e crustáceos, como o arenque antártico. Apesar de ser uma espécie oceânica, Godoy ressalta que sua aparição em Campinas não indica debilidade, mas sim a ocorrência esporádica da ave nas regiões interiores do Brasil.
Por que o trinta-réis-ártico apareceu no interior paulista?
“Embora a rota migratória da espécie seja predominantemente costeira, alguns indivíduos são conhecidos por passarem por áreas interiores. Acredito que essa aparição segue o padrão de registros ocasionais que temos observado ao longo dos anos”, explica o biólogo. Esse fenômeno não é inédito e já foi documentado em trabalhos anteriores.
O papel da ciência cidadã
A crescente quantidade de registros do trinta-réis-ártico em solo brasileiro reflete, segundo Fernando Igor de Godoy, a importância da ciência cidadã. Até 2012, apenas 21 locais tinham registros confirmados da espécie, número que aumentou significativamente para dez localidades em São Paulo atualmente. O aumento no número de observadores e fotógrafos de aves é apontado como um dos fatores que contribui para essa ampliação de dados.
“Não é que mais aves estejam aparecendo, mas sim que temos mais pessoas prestando atenção a elas. Essa evolução na observação das aves é vital para preencher lacunas na ciência”, conclui Godoy.
Conclusão
O registro do trinta-réis-ártico em Campinas destaca não apenas a beleza e a complexidade das migrações das aves, mas também a importância das contribuições da comunidade para a ciência. Eventos como este reforçam a necessidade de proteção e preservação dos habitats naturais, que servem como refúgio para estas aves extraordinárias e outros seres da fauna brasileira.
Acompanhe mais sobre a natureza e seus fascinantes habitantes e fique atento para futuras descobertas que possam surgir em território brasileiro!



