Brasil, 9 de dezembro de 2025
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Peru transforma desertos áridos em potência agroexportadora

As vastas planícies desérticas da região de Ica, no Peru, passaram de ambientes de pouca vegetação para grandes centros de produção de frutas, com destaque para mirtilos, uvas e abacates. Essa transformação ocorreu nas últimas décadas, impulsionada por avanços tecnológicos e reformas econômicas, transformando o país no maior exportador mundial de algumas dessas commodities.

De deserto a polo de agricultura sustentável

Até a década de 1990, a ideia de cultivar em regiões áridas do litoral peruano parecia inviável. Porém, com incentivos do governo, incentivos ao investimento privado e inovação na irrigação, áreas como Ica tornaram-se férteis, graças à irrigação por gotejamento e ao uso de aquíferos subterrâneos.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Irrigação do Peru, as exportações agrícolas cresceram em média 11% ao ano entre 2010 e 2024, atingindo US$ 9,185 bilhões. O país destacou-se como maior exportador mundial de uvas e mirtilos, frutas que antes quase não eram produzidas localmente.

Origem do boom agrícola peruano

O desenvolvimento da indústria agroexportadora teve início na década de 1990, após reformas econômicas promovidas pelo governo de Alberto Fujimori, que facilitaram o investimento estrangeiro e reduziram tarifas. Essas mudanças abriram portas para a agricultura de grande escala, justamente em regiões de difícil agricultura tradicional, devido à geografia acidentada e à baixa fertilidade do solo.

Especialistas como Ana Sabogal ressaltam que a inovação tecnológica, como irrigação eficiente e o desenvolvimento de variedades adaptadas, viabilizaram a expansão agrícola. A transformação do deserto em “estufa natural” permitiu que a superfície cultivável crescesse cerca de 30% nesse período.

Consequências econômicas e sociais

Em 2024, a agroindústria representava 4,6% do PIB peruano, uma elevação significativa frente aos 1,3% de 2020, reforçando o papel do setor na economia Nacional. Os empregos qualificados aumentaram e a renda média dos trabalhadores melhorou, embora nem todos os agricultores tenham se beneficiado igualmente.

Enquanto grandes propriedades e exportadoras se expandiram, muitos pequenos agricultores enfrentam dificuldades como o aumento do custo da água e obstáculos ao acesso ao recurso, visto que o uso de água subterrânea de forma descontrolada agravou a crise hídrica regional.

A crise da água e desafios sustentáveis

O principal problema ambiental derivado dessa expansão é o consumo intenso de água em uma região onde a maior parte da população não possui abastecimento regular. Os extrações de água subterrânea, feitas frequentemente de forma clandestina, levam à superexploração do aquífero, já em declínio.

Ativistas locais, como Rosario Huayanca, alertam que a disputa por água em regiões como Ica está cada vez mais acirrada, colocando em risco a sustentabilidade da agroindústria. A Autoridade Nacional de Água (ANA) adota fiscalização rigorosa, mas ainda assim há relatos de violações e dificuldades de controle.

O futuro da agricultura peruana

Embora o setor contribua para o crescimento econômico, a questão da água põe em xeque a sua sustentabilidade a longo prazo. Especialistas defendem que é necessário estabelecer limites claros de uso hídrico, protegendo o abastecimento humano e os ecossistemas locais.

O desafio do Peru, e de outras regiões áridas do mundo, é equilibrar a expansão agrícola com a preservação ambiental e o bem-estar social. As soluções envolvem inovação, regulamentação mais rígida e conscientização pública sobre o uso racional dos recursos naturais.

Sem essa atenção, a tendência é que a sustentabilidade do boom agroexportador venha a ser comprometida, colocando em risco o futuro econômico e ambiental do país.

Fonte: G1 – Como o Peru transformou um dos desertos mais áridos do mundo em um centro de produção de alimentos

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