Brasil, 9 de dezembro de 2025
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Denúncias em set de filme sobre Bolsonaro incluem agressões

O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP) recebeu uma série de denúncias preocupantes relacionadas ao set de filmagem de “Dark Horse”, um longa-metragem que pretende contar a trajetória do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre os relatos, destacam-se agressões, atrasos no pagamento e o fornecimento de alimentação estragada para atores e figurantes. Diante da gravidade das situações, o sindicato enviou delegados ao local de gravação para investigar as queixas.

Relatos de abusos e condições de trabalho degradantes

As vozes dos trabalhadores da produção começaram a ecoar, levando o Sated-SP a agir. Segundo Rita Teles, presidente do sindicato, um dos relatos mais alarmantes é de um ator de 21 anos que afirma ter sido agredido durante uma diária no Memorial da América Latina. O incidente ocorreu no dia 21 de novembro, quando o próprio ator, que atuava como figurante, foi abordado por seguranças após tentar entrar no set com um celular, que estava proibido. Ele relata que, ao ser revistado, foi agredido fisicamente e expulso do local.

— Acionamos o Ministério do Trabalho para acompanhar a situação, mas infelizmente não obtivemos resposta em tempo hábil. Não podemos permitir que produções internacionais trabalhem em nosso país sem respeito pelas normas e direitos trabalhistas — declarou Rita Teles.

Denúncias coletivas e padrão de salários abaixo do mercado

As denúncias não se restringem a um único incidente, mas abrangem uma série de problemas que afetam todos os envolvidos na produção. Até o momento, o Sated-SP registrou 15 denúncias oficiais, além de várias outras que chegaram por meio de redes sociais, como direct do Instagram e mensagens pelo WhatsApp. As queixas incluem atrasos nos pagamentos, fornecimento de alimentação inadequada e restrições desumanas, como a proibição de uso dos banheiros por figurantes.

Segundo o dossiê elaborado pelo Sated-SP, enquanto a equipe técnica e o elenco principal estrangeiro tinham acesso a alimentação em regime de “self-service”, com direitos a várias refeições durante o dia, os figurantes brasileiros receberam apenas kits de lanche para uma jornada de oito horas. Essa diferenciação foi relatada por muitos como discriminatória e inaceitável, evidenciando um padrão de tratamento que fere os direitos trabalhistas e as normas do setor.

Expectativas e falta de respostas

Conforme relatado por Rita Teles, a questão da preservação da identidade dos denunciantes é crucial. Muitos trabalhadores expressam receio de represálias, temendo que, ao revelarem seus nomes, fiquem estigmatizados e não consigam oportunidades futuras. “Ainda recebemos mensagens de pessoas atuando em diversas funções, seja na figuração, elenco ou equipe técnica”, ressaltou Teles.

Os relatos têm gerado grande repercussão na comunidade audiovisual, levantando um debate sobre os direitos dos trabalhadores em produções internacionais no Brasil. A situação tornou-se ainda mais delicada dado que o roteiro do filme foi escrito pelo deputado federal Mário Frias (PL-SP), ex-Secretário Especial de Cultura do governo Bolsonaro, o que coloca a produção sob intenso escrutínio.

O que diz a produção?

Até a publicação desta reportagem, o GLOBO tentou contato com o deputado Mário Frias, responsável pela produção e roteiro do longa, mas não obteve uma resposta. A apuração das denúncias seguirá, assim como a supervisão das condições de trabalho no set, visando garantir que todos os trabalhadores estejam protegidos e tratados com dignidade.

Esse caso ilustra a importância do papel dos sindicatos na defesa dos direitos dos trabalhadores e a necessidade de conscientização sobre as condições de trabalho na indústria cinematográfica brasileira, especialmente diante da crescente presença de produções internacionais no país.

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