Brasil, 9 de dezembro de 2025
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Crise dos Correios chega ao ponto mais grave em uma década

A crise financeira dos Correios atingiu seu pior momento em mais de uma década. Até setembro de 2025, a estatal registrou R$ 6 bilhões de prejuízo apenas neste ano, ampliando uma trajetória de 13 trimestres seguidos de resultados negativos. A deterioração das contas, agravada pela queda de receitas e pela ampliação da concorrência no mercado de entregas, tem levado o governo federal a explorar possibilidades de apoio financeiro, mas sob condições rigorosas.

Desafios e fatores que agravaram a crise dos Correios

Desde 2022, as finanças da estatal apresentam sinais de fraqueza, intensificando-se em 2024 e 2025. A perda de receita, sobretudo com serviços postais tradicionais, combinada com o aumento das despesas, como juros e manutenção da infraestrutura, contribuíram para os números negativos. Além disso, a entrada de empresas privadas no setor de logística, associada à criação do Remessa Conforme, conhecida como “taxa das blusinhas”, prejudicou a receita da maior rede logística do país.

Impacto do aumento da concorrência e da “taxa das blusinhas”

O crescimento do comércio eletrônico internacional, impulsionado por plataformas como Shopee, Shein, AliExpress e Temu, elevou o volume de encomendas vindas da Ásia até 2023. A isenção de impostos de importação para compras até US$ 50 incentivou entregas rápidas e baratas, que passaram a ser parcialmente atendidas pelos Correios. Com a implementação da nova taxa de importação, este fluxo diminuiu, afetando um segmento que vinha equilibrando a queda das receitas com serviços tradicionais.

Solicitação de socorro financeiro e propostas do governo

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o Tesouro já está envolvido na elaboração de um plano de recuperação para os Correios, com possibilidade de aporte de até R$ 6 bilhões, seja por crédito extraordinário ou por projeto de lei. No entanto, Haddad destacou que é imprescindível a apresentação de metas e cortes estruturais antes de qualquer apoio, reforçando que o governo só colocará recursos se a estatal cumprir condições de eficiência e reestruturação.

Segundo ele, a União poderá financiar a reestruturação através de mecanismos similares aos previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, que permite desconsiderar até R$ 10 bilhões em despesas de reequilíbrio de estatais para não afetar a meta fiscal.

Medidas de reestruturação em debate

  • Fechamento de agências deficitárias, que podem ultrapassar mil unidades;
  • Venda de imóveis ociosos, estimada em arrecadação de cerca de R$ 1,5 bilhão;
  • Programa de demissão voluntária, com previsão de até 15 mil desligamentos;
  • Revisão de contratos e cortes administrativos;
  • Busca por novas parcerias e ampliação de nichos de receita.

Especialistas alertam que a maior preocupação é com o risco de estrangulamento operacional. Sem recursos para custear a manutenção da frota, modernização de sistemas ou pagamento a fornecedores, a empresa pode sofrer atrasos, falhas e perda de contratos, agravando ainda mais sua crise de qualidade nos serviços.

Para tentar evitar essa situação, a estatal buscou um empréstimo de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos públicos e privados, mas a operação foi vetada pelo Tesouro devido às altas taxas de juros exigidas, próximas de 136% do CDI, acima do limite de 120%. Enquanto tenta renegociar, os Correios podem acelerar ações como venda de imóveis, cortes de contratos e aumento do programa de demissão voluntária, que já está em 15 mil candidatos.

Fernando Haddad deixou claro que o apoio do governo só será concedido mediante aprovação do plano de recuperação, que inclui reformas na gestão, reorganização logística e redução de custos. Na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, há previsão para desconsiderar despesas de até R$ 10 bilhões na análise da meta fiscal, facilitando o apoio.

Perspectivas e desafios da recuperação

Entre as ações propostas estão o fechamento de unidades deficitárias, venda de imóveis, reestruturação de contratos e incentivo ao aumento de parcerias comerciais. Contudo, especialistas destacam que o maior desafio é garantir a sustentabilidade operacional da estatal, evitando o colapso na prestação de serviços e a perda de credibilidade perante o mercado.

Se a recuperação não for bem-sucedida, o risco de deterioração da qualidade do serviço e a consequente migração de clientes para concorrentes podem aprofundar a crise das estrelas do setor de logística nacional.

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