A CNA destacou nesta terça-feira que, embora o agronegócio tenha contribuído para a melhora dos indicadores econômicos brasileiros em 2025, o próximo ano promete ser de incertezas e pressões externas que podem afetar o setor. Segundo o balanço anual divulgado pela entidade, a inflação deve fechar 2025 em 4,4%, impulsionada pela queda nos preços de alimentos e pelo crescimento de 9,6% no PIB do agro, estimado em R$ 3,13 trilhões.
Perspectivas e desafios para 2026
Para o próximo ano, a previsão é de crescimento mais moderado, de apenas 1%, face às dificuldades esperadas na situação fiscal do país. A CNA alerta que a alta da taxa Selic, atualmente em 15%, e o risco de descumprimento das metas fiscais podem levar o governo a aumentar a arrecadação por meio de fiscalização rigorosa e mudanças nas bases tributárias, o que poderia manter a economia agrícola em ritmo frágil.
Inadimplência no crédito rural atinge recorde
Um dos principais enfrentamentos para o setor é o aumento da inadimplência no crédito rural, que atingiu 11,4% em outubro — o maior nível desde 2011. Em 2023, o percentual era de 0,59%. A CNA atribui esse salto a problemas climáticos recorrentes, custos elevados, redução de preços das commodities, juros altos, retração bancária e a ausência de instrumentos eficazes de gestão de risco. Além disso, o programa de seguro rural teve o seu pior desempenho desde 2007 em 2025, cobrindo menos de 5% da área agricultável.
Produção agrícola e setor pecuário
Apesar do crescimento na produção agrícola, que deve atingir 354,8 milhões de toneladas na safra 2025/26 (alta de 0,8%), alguns setores específicos apresentam recuos. A produção de soja será de 177,6 milhões de toneladas (+3,6%), enquanto o milho na segunda safra deve cair 2,5%, e o arroz terá uma redução de 11,5%, chegando a 11,3 milhões de toneladas.
O Valor Bruto da Produção (VBP) projeta uma receita de R$ 1,57 trilhão em 2026, um avanço de 5,1% em relação a 2025, com destaque para o segmento agrícola, que deve crescer 6,6%. No entanto, a pecuária deve sofrer uma redução na oferta de carne bovina, com uma queda prevista de 4,5%, influenciada pelo alto abate de fêmeas em 2025, que representa quase metade do total, pressionando preços no período.
Pressões externas impactam o setor
A CNA avalia que o cenário internacional trará desafios adicionais em 2026, devido às tensões comerciais com Estados Unidos, China e União Europeia. Tarifas adicionais de até 40% nos EUA podem gerar perdas de até US$ 2,7 bilhões para o agronegócio brasileiro. Exportações para o mercado americano já caíram 37,8% de agosto a novembro, comparado ao mesmo período de 2024. Além disso, o avanço do acordo Mercosul-UE e o adiamento da Lei Antidesmatamento Europeia (EUDR) até o final de 2026 aumentam a incerteza sobre o comércio com o continente europeu. Na China, investigações sobre carne bovina podem resultar em salvaguardas e compromissos de compras que enfraqueceriam ainda mais a soja brasileira.
Expectativas para o setor agrícola em 2026
A CNA conclui que o próximo ano será marcado por uma fase de reconstrução, com busca por instrumentos que reduzam a vulnerabilidade financeira e climática dos produtores rurais. Sem medidas estruturais, como ampliação do seguro rural, melhorias no acesso ao crédito e maior estabilidade regulatória, a resiliência apresentada em 2025 corre o risco de não se repetir, deixando o setor mais vulnerável às turbulências econômicas e externas.
Para mais detalhes, acesse o relatório completo da CNA.

