Não são apenas duas décadas que separam as passagens de Marina Silva (Rede) pelo Ministério do Meio Ambiente em gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A atual ministra tem demonstrado uma mudança significativa em sua postura, impulsionada por um amadurecimento político e pela necessidade de lidar com um Congresso que se tornou mais alinhado à oposição, conforme avaliam interlocutores próximos à ministra.
Uma nova abordagem nas negociações
Se, em 2008, Marina deixou o governo com críticas sobre a pressão por emissões de licenças e reclamando do desprestígio do ministério junto ao Palácio do Planalto, hoje, seus aliados enfatizam que ela reconhece a importância de escolher melhor as lutas a serem travadas para conseguir resultados concretos. Essa reformulação em sua abordagem ocorreu após várias divergências que marcaram sua saída do governo em 2012.
À medida que Marina Silva assume uma postura mais pragmática, suas vitórias incluem a redução do desmatamento e a retomada de um plano institucional no setor ambiental. Apesar das conquistas, é inegável que a ministra enfrenta um ambiente desafiador dentro da Esplanada dos Ministérios, onde a polarização política e a ideologização das pautas se intensificaram.
O fortalecimento da relação com Lula
Um dos marcos dessa nova fase é a evolução da relação com o presidente Lula. Alinhados na linha de frente da política ambiental, a reaproximação entre os dois ocorreu durante a campanha de 2022. Quatorze anos após deixar o governo, Marina decidiu apoiar Lula, mesmo sem garantias de que retornaria ao cargo de ministra. Para ela, a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas era uma prioridade.
Um ministro próximo ao presidente mencionou que tanto Lula quanto Marina estavam “com saudade um do outro”, o que reflete a vontade do governo de restaurar a imagem do Brasil como líder em ações climáticas, especialmente com a ambição de criar um “mapa do caminho” para eliminar combustíveis fósseis até a COP30.
Desafios e divergências no governo
Entretanto, divergências permanecem, particularmente em relação ao investimento na exploração de petróleo e o processo de licenciamento na Bacia da Foz do Amazonas. Os desafios são evidentes, com o ex-ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, criticando a incoerência do Brasil nesta questão, dado o compromisso assumido em fóruns como a COP30.
Marina enfrenta, portanto, um dilema: como equilibrar suas diretrizes ambientais com a pressão política e econômica que envolve a exploração de petróleo, um setor altamente influente no Brasil. Essa contraposição é vista como uma das principais divergências que afetam sua atuação no governo.
Preparativos para o futuro
Além de sua função como ministra, Marina avalia a possibilidade de se candidatar ao Senado nas próximas eleições, o que pode significar um novo capítulo em sua carreira política. Conversas sobre sua possível filiação ao PT e ao PSB demonstram que a política continua sendo uma arena de constantes mudanças para a ambientalista.
A atual postura de Marina em seu papel no governo contrasta com a de sua saída anterior, quando se sentiu sem apoio e oprimida por pressões de outros ministérios. Sua capacidade de adaptação e amadurecimento político, segundo aliados, indicam uma busca por uma governança mais eficaz e colaborativa.
Um novo clima na Esplanada
Um aspecto positivo observado por especialistas e aliados é a melhora nas relações de Marina com outros ministérios, especialmente com a Casa Civil, liderada por Rui Costa. Após um início conturbado, a ministra conseguiu alguns avanços, como a conquista de vetos na lei do licenciamento ambiental e a defesa de governança territorial em debates sobre a asfaltagem da BR-319.
Essas mudanças não são apenas reflexo da força política de Marina, mas também do reconhecimento de que a atuação em conjunto é crucial em um cenário governamental complexo e dilacerado por divisões ideológicas. A relação renovada entre Marina e seus colegas de governo sinaliza uma esperança de que, apesar das divergências, um trabalho colaborativo poderá levar a soluções mais sustentáveis para o meio ambiente do Brasil.
Com suas experiências acumuladas ao longo de duas décadas, Marina Silva está mais apta a negociar e priorizar ações que podem ter um impacto significativo e positivo. O futuro se desenha promissor, tanto para a ministra quanto para as pautas ambientais que ela defende com empenho e dedicação.
Certamente, as escolhas que Marina fizer neste período serão cruciais não só para sua carreira política, mas também para a saúde do meio ambiente no Brasil em tempos tão desafiadores.



