O Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, destacou a necessidade de cultivar esperança e combater o ódio na região de Gaza, durante sua visita pastoral a Detroit de 4 a 6 de dezembro de 2025. Acompanhado do arcebispo Edward J. Weisenburger e do bispo franciscano Francis Y. Kalabat, ele refletiu sobre a situação dramática no Oriente Médio e o papel da fé na promoção da paz.
Pontes de esperança diante do conflito em Gaza
Em uma coletiva de imprensa realizada em 5 de dezembro, Pizzaballa afirmou que “esperança é uma palavra complexa” e que deve estar fundamente na fé e no desejo de mudança. Segundo ele, não se deve confundir esperança com soluções políticas imediatas, que podem não chegar tão cedo. “Se você colocar sua esperança nisso, ficará frustrado”, alertou.
O patriarca ressaltou que tanto instituições políticas quanto religiosas têm o dever de nutrir essa esperança, que precisa de raízes e de ações concretas. “Esperança é um sentimento que não pode ficar isolado; ela precisa estar ligada à fé e ao desejo de uma mudança real, que só acontecerá se as pessoas pensarem e agirem de maneira diferente”, explicou.
Desafios enfrentados pelos cristãos na região
Hoje, os cristãos representam aproximadamente 1% da população de Gaza, cerca de 500 pessoas, e apenas 2% na Cisjordânia, com cerca de 190.000 na Israel e 45.000 na Palestina, onde muitos continuam a emigrar. O medo sobre o futuro da presença cristã na região aumenta, especialmente após a destruição de hospitais, escolas e residências na última ofensiva de Hamas e Israel, iniciada em 7 de outubro de 2023.
Durante sua visita, Pizzaballa trouxe alimentos para os cristãos refugiados no paróquia da Sagrada Família em Gaza, uma das únicas instituições sacramentais preservadas na área. “Era a primeira carne que vi em nove meses”, disse, destacando a escassez de alimentos e o sofrimento das famílias locais.
Resiliência e fé em meio à devastação
Apesar do cenário sombrio, a vida sacramental prossegue na paróquia, com missas, rezas e atividades escolares, promovendo união e esperança entre os refugiados. “Nunca ouvi uma palavra de ira ou ódio”, relatou Pizzaballa, que ouviu de um hospitalar de Gaza: “No meio de toda a violência, não conseguimos odiar eles.”
O líder católico afirmou que, embora o cessar-fogo entre Hamas e Israel permita algum alívio, os moradores de Gaza estão apenas começando a sair do “modo de sobrevivência”. Eles agora questionam o que virá a seguir, como reconstrução e governança, temas que antes não tinham espaço para discussão devido à urgência de suas vidas.
Reconhecimento da complexidade e responsabilidade global
Weisenburger reforçou a complexidade da situação, reconhecendo o peso da responsabilidade dos países ocidentais na destruição causada pelo conflito. “Aceitamos parte da nossa responsabilidade na reconstrução”, declarou, destacando as doações de cerca de meio milhão de dólares de órgãos beneficentes de Detroit para o povo do Oriente Médio.
Declarações sobre o papel da Igreja e a busca por paz
Pizzaballa, em sua homilia, comparou a esperança bíblica de restauração às atuais dificuldades enfrentadas pelos cristãos no Iraque, afetados pelo Estado Islâmico. Ele condenou com firmeza o ataque do Hamas, afirmando que “não é aceitável” a violência, mas também criticou a resposta de Israel, dizendo que a retaliação “complica ainda mais a situação.”
“Não estamos contra Israel, mas a situação só mudará quando os palestinos forem reconhecidos como pessoas com dignidade e direito à autodeterminação”, ressaltou.
Compromisso com o diálogo e a solidariedade
Durante sua passagem por Detroit, o cardeal visitou instituições como os franciscanos no Mosteiro de São Bonaventure, onde recebeu uma relíquia de São Francisco de Assis, e o seminário de Sagrado Coração, dialogando com seminaristas e professores. No dia 5, participou de um jantar beneficente na antiga sede do seminário, que destina toda a arrecadação a projetos humanitários na Terra Santa.
Pilgrimages e esperança futura na Terra Santa
Apesar das dificuldades econômicas, especialmente em Belém, onde o turismo caiu drasticamente, grupos de peregrinos continuam planejando visitar a região. O historiador e guia de peregrinações Steve Ray anunciou uma expedição de mais de 50 pessoas de 28 de dezembro a 6 de janeiro, salientando que, apesar do medo infundido pelas redes sociais, nenhum peregrino foi ferido até hoje. Ele planeja futuras excursões para 2026, incluindo uma para estudantes da Universidade Ave Maria.
Ao encerrar sua visita, Pizzaballa celebrará missa no Santuário de Nossa Senhora das Filipinas, em Detroit, reforçando a esperança de uma convivência pacífica e duradoura na Terra Santa.


