As exportações de carne bovina do Brasil para a Argentina dispararam em 2025, atingindo 11 mil toneladas de janeiro a outubro, uma alta de mais de 20 vezes em relação ao mesmo período de 2024, quando foram embarcadas 526 toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura. Apesar do crescimento expressivo, o volume corresponde a menos de 1% do total exportado pela China, maior compradora da carne brasileira.
Fatores que impulsionaram as exportações brasileiras para a Argentina
Efeito tarifaço e aumento nas vendas aos EUA
Analistas apontam que o aumento nas exportações brasileiras para a Argentina está relacionado ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e à redução na produção de carne na Argentina. De abril a novembro de 2025, o governo norte-americano aumentou a sobretaxa sobre o produto brasileiro de 10% para até 50%, estimulando os argentinos a buscarem no Brasil uma alternativa para abastecer o mercado interno. Nesse contexto, os argentinos passaram a importar mais carne brasileira, especialmente após o pico de compras em setembro, um mês após a alta da sobretaxa.
“O tarifaço levou os argentinos a recorrerem ao Brasil para manter o abastecimento, uma vez que a produção local caiu significativamente”, explica Fernando Henrique Iglesias, consultor do Safras & Mercados. Ele destaca que a produção argentina vem encolhendo há anos devido às secas e à política econômica do governo anterior, que limitou as exportações do país.
Queda na produção argentina
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a produção de carne na Argentina caiu cerca de 1 milhão de toneladas entre 2023 e 2025, resultado de fatores climáticos como o fenômeno La Niña e medidas econômicas impulsionadas pelo ex-presidente Alberto Fernández, que estabeleceu taxas de exportação e suspendeu vendas por 30 dias em 2021.
“A diminuição da produção, combinada com o aumento das exportações brasileiras, favorece a entrada de carne argentina no mercado brasileiro”, comenta Thiago Bernardino de Carvalho, do Cepea/USP. Ele ressalta que medidas atuais do governo argentino, liderado por Javier Milei, têm estimulados as exportações, zerando ou reduzindo taxas de exportação de carne bovina.
Impacto no mercado argentino e perspectivas futuras
Apesar do aumento nas exportações brasileiras, dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados (Ciccra) mostram que as vendas da Argentina ao exterior diminuíram 10,5% de janeiro a outubro, principalmente por uma redução nas compras da China. Nos EUA, as vendas argentinas cresceram 7,5%, enquanto o Brasil teve forte recuo devido às sobretaxas americanas.
Segundo Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto, a retirada parcial da carne brasileira do mercado americano e o papel de países vizinhos na triangulação comercial abriram espaço para a carne argentina no mercado norte-americano, que, após a redução das sobretaxas, tende a se estabilizar.
Por outro lado, o baixo custo da carne brasileira, com média de US$ 61 por arroba contra US$ 74,8 na Argentina, faz do Brasil uma alternativa de abastecimento para os argentinos, sobretudo com a expectativa de que a produção local em 2026 permaneça deprimida. De acordo com Iglesias, a tendência é de continuação do aumento nas compras argentinas ao Brasil nos próximos meses.
“A limitação da produção argentina deve manter a demanda por carne brasileira elevada”, avalia Iglesias, ressaltando o papel do mercado internacional na relação entre os dois países.
Mais detalhes sobre a movimentação das exportações e as políticas do governo argentino podem ser acompanhados na reportagem completa no G1.


