Desde o início do conflito em Gaza, as consequências para as crianças têm sido devastadoras. Doenças mentais, ataques de pânico, ansiedade e estresse se espalham rapidamente entre a população infantil, como destaca a psicóloga clínica Nazek El Kord. “Mesmo com a trégua, as crianças continuam com medo. Seu desenvolvimento emocional foi bruscamente interrompido”, afirma Nazek, apontando a necessidade urgente da intervenção da comunidade internacional nesta crise humanitária.
O impacto das bombas em uma infância roubada
As consequências físicas e emocionais da guerra vão além da destruição de lares e da perda de vidas. Nazek, que trabalha no Centro Médico Princesa Basma, localizado no Hospital Ahli Arab, tem sido testemunha de inúmeras histórias de sofrimento. Uma delas é de uma menina palestina de apenas cinco anos, que, além de ter perdido familiares, enfrenta um profundo trauma emocional que a deixou sem palavras, como um verdadeiro “fantasma”. Essas experiências mostram que a guerra não apenas marca o corpo, mas também deixa cicatrizes invisíveis que podem durar uma vida inteira.
Tratamento e esperança para as crianças afetadas
Com a menina silenciosa, Nazek buscará usar técnicas de brincadeiras terapêuticas para ajudar a criança a recuperar a autoconfiança e a fala. Mesmo diante da trégua, as memórias traumatizantes continuam a assombrá-las. “As crianças de Gaza não se sentem seguras. Elas ainda estão imersas em pesadelos e o que é mais doloroso é que o ‘perigo’ continua a ser uma presença constante em suas vidas”, explica Nazek, ressaltando a gravidade da situação. As crianças sentem ataques de pânico, reagem a sons altos e têm dificuldades para controlar suas emoções, apresentando um quadro crescente de doenças mentais que necessita urgentemente de atenção profissional.
A necessidade de intervenções psicossociais
Com mais de dois anos de conflitos, crianças palestinas estão no limbo de suas infâncias, apresentando a necessidade urgente de intervenções psicossociais. “Praticamente todas as crianças de Gaza precisam de ajuda para lidar com os traumas e reconstruir a capacidade de recuperação”, afirma Nazek, clamando por uma resposta solidária da comunidade internacional. Embora existam algumas iniciativas internacionais, elas ainda são insuficientes para atender às demandas específicas de cuidados mentais necessários neste momento crítico. A falta de apoio reflete a realidade cruel de que muitos dos pequenos não estão recebendo a assistência adequada.
A importância da família no processo de cura
Para salvar “pequenos fantasmas” como a menina sem voz, é essencial que psicólogos, psiquiatras, familiares e a escola colaborem em um caminho direcionado à cura. Se a família estiver emocionalmente presente, ela pode se tornar uma fonte poderosa de recuperação. Mesmo em tempos difíceis, se apoiados, os pais podem oferecer amor, rotina e estabilidade, essenciais para que as crianças se sintam seguras. Porém, como Nazek enfatiza, sem a colaboração da comunidade internacional, os esforços permanecem limitados, quase como tentar esvaziar o mar com uma colher.
A realidade em Gaza serve como um chamado à ação para governos e organizações ao redor do mundo. É imperativo que a assistência psicológica e emocional às crianças afetadas seja priorizada, garantindo não apenas sua recuperação individual, mas também um futuro mais promissor para toda a região.
A tragédia enfrentada pelas crianças de Gaza requer uma atenção imediata e contínua, para que elas possam não apenas sonhar, mas também viver suas infâncias, que lhes foram cruelmente tiradas pela guerra.
