Nos últimos anos, o sistema educacional americano tem enfrentado desafios ao equilibrar a necessidade de acomodações para estudantes com deficiência e a busca por justiça nas salas de aula. Muitas universidades de elite, como a Universidade de Chicago e a UC Berkeley, viram um aumento significativo no número de estudantes que solicitam acomodações, como tempo extra em exames, um fenômeno que levanta questões sobre justiça acadêmica e a verdadeira definição de deficiência.
A explosão nas acomodações acadêmicas
Desde a promulgação da Lei dos Americanos com Deficiências (ADA) em 1990, as instituições de ensino superior têm avançado para oferecer um ambiente mais inclusivo. No entanto, ao longo da última década, as cifras dispararam. Na Universidade de Chicago, o número de estudantes com direitos a acomodações mais do que triplicou nos últimos oito anos. Na UC Berkeley, este número quase quintuplicou nos últimos quinze anos. Essa realidade é impulsionada pelo aumento do diagnóstico de condições como TDAH, ansiedade e depressão, além da flexibilização dos processos para obtenção de acomodações por parte das universidades.
A evolução das definições e do diagnóstico
A definição de deficiência se tornou mais ampla após uma emenda à ADA em 2008, permitindo um maior número de estudantes a acessar suporte institucional. Enquanto em instituições como Brown e Harvard, mais de 20% dos alunos estiverem registrados como deficientes, a realidade nas universidades menos seletivas é muito diferente, com apenas 3 a 4% dos alunos recebendo acomodações.
A acomodação versus o acesso à educação
Com a facilidade de diagnósticos e a oferta de acomodações, surge uma linha tênue entre a verdadeira deficiência e a luta acadêmica que muitos estudantes enfrentam. O professor Juan Collar, da Universidade de Chicago, expressou preocupação com a crescente segregação da população estudantil: “Sinto pena dos alunos que não estão tirando proveito disso. Temos uma população estudantil em dois níveis.” A questão da justiça se torna mais evidente quando se considera o ambiente acadêmico onde privilégios podem se traduzir em resultados mais favoráveis em provas e avaliações.
O impacto das acomodações na equidade acadêmica
Embora as acomodações visem criar um campo de jogo mais equilibrado, a administração das mesmas pode, paradoxalmente, perpetuar desigualdades. Estudantes de famílias abastadas, com mais recursos, são frequentemente mais bem-sucedidos em acessar diagnósticos e serviços, enquanto estudantes de classes baixas ainda lutam para obter as acomodações de que precisam.
O papel das instituições e suas implicações sociais
O aumento notável no número de estudantes com acomodações mais também levanta questões sobre o que isso significa para o futuro da educação superior. “O que parece mais evidente é que se as desigualdades persistirem, a missão de equidade das universidades fica comprometida,” comentou Paul Graham Fisher, professor da Universidade de Stanford.
A pressão sobre as universidades de elite para elaborar políticas que acomodem essa nova realidade é crescente. No entanto, muitos educadores acreditam que a solução não reside em restringir o acesso, mas em reformar a maneira como as instituições abordam o suporte estudantil em geral, garantindo que todos os estudantes, independentemente de sua origem, tenham a oportunidade de ter sucesso acadêmico.
Um futuro incerto
À medida que mais estudantes se registram como deficientes, o número de acomodações pode, em breve, superar a quantidade de alunos sem deficiência, um cenário que era impensável há apenas uma década. Com isso, novas estratégias e políticas serão necessárias para garantir que a educação superior cumpra seu papel de promover acesso e igualdade.
As vozes dos defensores da deficiência pedem um foco nas necessidades dos alunos que ainda não recebem as acomodações que precisam. No entanto, até que haja uma solução holística que aborde tanto as necessidades dos estudantes com deficiência quanto as preocupações sobre a equidade acadêmica, a discussão sobre acomodações na educação superior provavelmente continuará.
É uma luta contínua que questiona não apenas como as universidades servem todos os seus alunos, mas também quais valores essas instituições realmente sustentam em sua missão de educar.


