O protagonismo da segurança pública nas últimas semanas trouxe à tona a discussão sobre a estagnação do presidente Lula nas pesquisas, após um período de crescimento. O aumento das preocupações com a segurança reflete um contexto onde a economia, antes considerada o foco central para a aprovação de um governo, pode não ser suficiente para garantir votos. Embora os indicadores econômicos tenham apresentado melhoras, o presidente procura lidar com um tema que, tradicionalmente, não ocupa o cotidiano presidencial com tanta força.
A economia como tema central
É consenso entre analistas políticos que, ao longo do tempo, temas fora da esfera econômica têm ganhado espaço nas campanhas eleitorais. Historicamente, questões como aborto e pautas morais foram utilizadas por candidatos de diferentes espectros políticos, como demonstrado nas campanhas de José Serra em 2010 e Jair Bolsonaro nas últimas eleições. Contudo, a dúvida persiste: até que ponto esses temas podem substituir a economia como o principal motor para a vitória nas urnas?
A famosa expressão “É a economia, estúpido!”, criada pelo estrategista de Bill Clinton, James Carville, permanece relevante, evidenciando a importância dos indicadores econômicos para a opinião pública. Hoje, com o desemprego em um patamar histórico de 6,2% e uma inflação de 4,7%, o governo Lula apresenta resultados positivos. No entanto, mesmo com esses dados, a desaprovação do presidente ainda supera a aprovação, fato que não acontecia desde dezembro do ano passado, conforme relatado pela pesquisa Genial/Quaest, que revela um saldo negativo de três pontos.
A arena política bidimensional
Fernando Guarnieri, professor do Iesp-Uerj, introduz o conceito de “arena política bidimensional”, afirmando que as discussões em torno da economia e de temas sociais como “lei e ordem” coexistem, mas têm impactos distintos nos candidatos. Ele menciona que, historicamente, a economia tende a favorecer a esquerda, enquanto temas de costumes são mais apreciados pela direita.
No contexto atual, a pesquisa do Rali, parceria entre o GLOBO e o Instituto Locomotiva, revela importantes insights. Presidentes enfrentando crises de desemprego ou inflação antes das eleições, como Michel Temer em 2018 e Jair Bolsonaro em 2022, enfrentaram dificuldades em suas reeleições. A história ensina que a economia desempenha um papel crucial no destino político de líderes.
Cenários eleitorais passados e futuros
Em 2002, Fernando Henrique Cardoso também enfrentou dificuldades durante seu segundo mandato, demonstrando que a deterioração da economia pode ser um complicador para líderes em busca de reeleição. Apesar do histórico, o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda acredita que, embora a segurança tenha ganhado destaque recentemente, a eleição de 2026 deverá se centrar novamente nas questões econômicas: inflação, crescimento e emprego.
A compreensão de que a economia influencia diretamente a vida das pessoas é fundamental. Desde a capacidade de oferecer melhores condições de vida até a possibilidade de consumir, as questões econômicas transcendem números e impactam em aspectos cotidianos, como a educação dos filhos e as despesas com saúde.
Volatilidade nas preocupações do eleitorado
Recentemente, a violência emergiu como uma grande preocupação entre os brasileiros, subindo para 38% nas respostas da pesquisa Genial/Quaest, um aumento significativo em relação ao mês anterior. A ascensão da violência nas pautas políticas ilustra como a direita utilizou esse cenário para desafiar a administração atual e trazer novas preocupações ao debate público.
A constatação é que a dinâmica eleitoral mudou. Desde 2014, as disputas têm se mostrado cada vez mais acirradas, e a ideia de que um único tema pode dominar a eleição foi deixada para trás. Os resultados competem em um território onde a diversidade de preocupações, incluindo economia, segurança e questões sociais, tornam-se mais relevantes.
Com uma arena política mais complexa, pequenos detalhes podem fazer a diferença. A dominância de um tema único é uma estratégia do passado. O futuro das eleições deve ser moldado por múltiplos fatores, refletindo uma sociedade em constante mudança e uma política em adaptação.
Assim, enquanto Lula se esforça para sustentar a aprovação de seu governo, a interação entre segurança pública e economia poderá definir o cenário pré-eleitoral no Brasil. O diálogo e a discussão aberta sobre como cada questão impacta a sociedade são cruciais para a construção de um futuro político mais robusto e eficaz.


