O Tarancón, um dos grupos mais icônicos da música latino-americana no Brasil, está celebrando um marco importante: 50 anos de trajetória musical. Para comemorar, o grupo realizará um show gratuito neste domingo, 16 de novembro, às 16 horas, no Sesc Casa Verde, em São Paulo.
A formação do Tarancón teve início na década de 1970 e desde então o grupo passou por várias etapas, incluindo sua participação em importantes festivais como o Festival dos Festivais, que os colocou na vitrine da música brasileira. O grupo é reconhecido não apenas pela sua musicalidade, mas também pela luta e resistência durante períodos difíceis, como a ditadura militar no Brasil.
Uma história que atravessa gerações
A história do Tarancón é rica e cheia de referências musicais. O grupo surgiu a partir da influência de músicos chilenos, que chegaram ao Brasil durante o governo de Salvador Allende. Emilio Ballenilla, um dos fundadores e atual líder do grupo, compartilha que a paixão pela música latina começou com discos de artistas como Inti-Illimani e Violeta Parra. “Decidimos trazer essas sonoridades para o Brasil, porque sentíamos que ninguém fazia isso na época”, relembra.
Com o passar dos anos, o Tarancón se tornou um ponto de referência para a música latino-americana, influenciando outros artistas e nascendo pela união de amigos que se reuniam para tocar nas garagens. “Nossos primeiros shows eram em faculdades e pequenas casas de show”, conta Emilio. “Era uma época em que a música praticada por nós era uma forma de protesto em meio à repressão.”
A importância da resistência musical na ditadura
Durante a ditadura militar brasileira, muitos artistas enfrentaram censura e repressão. Emilio explica que, apesar de realizar shows tranquilos para o público estudantil, quando se tratava de espaços maiores, enfrentavam a censura das letras. “Tínhamos que submeter nossas músicas à aprovação, e muitas vezes éramos surpreendidos com a proibição de canções sem justificativa”, relata. “Isso fazia parte do nosso cotidiano e, mesmo assim, continuamos a nos expressar.”
Artistas que marcaram a trajetória
Nos 50 anos de história, muitos artistas passaram pelo Tarancón, cada um contribuindo de forma única para a sonoridade do grupo. Entre os nomes que fizeram parte dessa jornada estão Miriam Mirah, Jica Thomé, e Alice Lumi Satomi, todos deixando sua marca. Emilio menciona com carinho a passagem de grandes músicos, como a cantora Ana Caram, que se destacou em sua breve estadia no grupo. “É difícil lembrar de todos, mas cada um trouxe algo especial para a nossa música”, afirma.
Festival dos Festivais: um marco na carreira
Um dos grandes momentos da carreira do Tarancón ocorreu em 1985, quando participou do Festival dos Festivais, promovido pela Rede Globo. A música “Mira Ira” conquistou o segundo lugar e permanece uma lembrança marcante na trajetória do grupo. “Foi incrível ver como uma letra em tupi-guarani animou tanta gente. Ficamos surpresos com a aceitação do público”, comenta Emilio, que recorda o impacto da canção em sua carreira.
“Mira Ira” ultrapassou as fronteiras da música e se transformou em um símbolo de resistência e união, mostrando a força que a música latina pode ter no coração dos brasileiros. “Recebemos mensagens de indígenas dizendo que a canção ajudou a representar suas culturas. Isso, para nós, é a verdadeira recompensa”, conclui Emilio.
Celebrando o presente e o futuro da música latina
No contexto atual, Emilio observa que a música latina está vivendo um momento de ascensão global, com novas sonoridades e artistas ganhando destaque. “A música colombiana e a influência do reggaeton estão fazendo parte do cotidiano. Grupos como Baiana System e Francisco El Hombre têm algo a dizer e estão nessa nova onda”, aponta.
Eventos e lançamentos
Durante o show no Sesc Casa Verde, será lançado também o livro “Nada a Declarar”, do fundador Jica Thomé, que promete contar mais sobre a história do Tarancón e seu impacto na música argentina e brasileira. “Esperamos que o público compareça e celebre conosco. A música é um bem coletivo, e queremos que todos sintam essa energia”, conclui Emilio.
O Tarancón permanece um simbolo de resistência e celebração da riqueza musical latina, e seu show no Sesc Casa Verde promete ser um evento memorável para todos os fãs e amantes da cultura latino-americana.


