Na última sexta-feira (14), o SBT Pará enfrentou um dos dias mais turbulentos de sua história ao demitir cerca de 98% de sua equipe celetista, logo após a exibição do Povo na TV, seu único telejornal local. A medida surpreendente ocorreu em meio à realização da COP 30, um evento de importância internacional sendo sediado em Belém. Essa reestruturação marca o fim da gestão direta do SBT sobre sua filial paraense, com a operação passando a ser comandada pelo Grupo Norte, que prometeu recontratar parte da antiga equipe sob novos termos contratuais.
A venda e suas repercussões
Embora a comunicaçã oficial ainda se refira a isso como uma “parceria estratégica”, fontes próximas confirmaram que a emissora foi vendida para o Grupo Norte. Este mesmo modelo de operação está previsto para ser implementado em breves nos canais de Ribeirão Preto e Jaú, com a transferência sendo feita para o Grupo Thathi. Funcionários que estavam cobrindo a COP 30 foram chamados de forma urgente à sede da emissora para assinarem o aviso prévio. Até mesmo profissionais renomados com décadas de trabalho na emissora foram dispensados, o que gerou uma onda de indignação e tristeza entre os espectadores e ex-colegas.
A TV Norte Pará, novo nome da afiliada desde agosto, anunciou que parte da equipe que foi dispensada será recontratada na próxima segunda-feira (17). Contudo, essas novas contratações não ocorrerão sob o regime CLT, mas sim como prestadores de serviço, o que implica na perda de diversos direitos trabalhistas que eram assegurados anteriormente.
Recontratação com menos direitos e juros financeiros
A nova modelagem contratual impõe que os ex-funcionários sejam contratados como pessoas jurídicas (PJ), o que elimina benefícios comuns como FGTS, 13º salário e até mesmo plano de saúde. Além disso, a nova direção informou que os salários pagos aos profissionais que serão recontratados serão, em média, 50% inferiores aos anteriormente praticados sob o regime CLT. Esta reestruturação foi comunicada formalmente ao Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará, que já monitorava a situação desde setembro.
Neste contexto, o Grupo Norte havia aberto um recrutamento para diversas funções com regime PJ e tinha garantido que respeitaria todas as normas da Consolidação das Leis do Trabalho. Além disso, em nota anterior, a empresa assegurou que todos os contratos encerrados seriam quitados conforme as leis trabalhistas vigentes. O motivo para tal reestruturação, segundo a nova gestão, seria uma “reestruturação organizacional” necessária para a sustentabilidade do canal.
Reações da emissora e dos jornalistas
Em resposta à situação, o SBT em São Paulo inicialmente comentou que ainda respondia pelo SBT Pará, mas após algumas horas voltou atrás dessa declaração e anunciou que não faria mais comentários acerca das demissões maciças. A emissora indicou que as informações relacionadas a essa mudança deveriam ser direcionadas diretamente ao Grupo Norte, que, até a publicação deste artigo, não havia se manifestado.
Os reflexos das demissões em massa já são visíveis entre a equipe anterior e os telespectadores, que sentem a falta do trabalho de muitos jornalistas reconhecidos pela qualidade e comprometimento com a informação. A situação gera ansiedade sobre o futuro da programação local e a qualidade das notícias que continuarão a ser oferecidas à população.
Essa série de mudanças ocorre em um momento delicado, quando a comunicação e a informação têm papel fundamental na sociedade, especialmente durante eventos de grande magnitude como a COP 30. A expectativa é que novos desdobramentos aconteçam nos próximos dias e que a sociedade civil se posicione em relação a essa situação inquietante na mídia local.



