Na última quarta-feira, durante uma entrevista ao NBC News, o presidente colombiano Gustavo Petro fez declarações polêmicas sobre a colaboração entre a Colômbia e os Estados Unidos, afirmando que “inteligência não é para matar”. Essa declaração foi feita em contexto à suspensão do compartilhamento de informações com os EUA, em resposta a ataques militares realizados por Washington contra embarcações suspeitas de transportar drogas.
Tensões crescentes entre os líderes da Colômbia e EUA
Petro, que se destacou como um dos poucos líderes internacionais a criticar abertamente o ex-presidente Donald Trump, descreveu-o como um “barbárico” que tenta amedrontar a América Latina com uma crescente presença militar no Caribe. De acordo com o presidente colombiano, a colaboração entre os dois países não pode significar apoio a “crimes contra a humanidade.”
O presidente enfatizou que, embora a luta contra o narcotráfico seja de extrema importância e que a coordenação de inteligência é benéfica, isso não deve justificar ações letais. “Inteligência não é para matar”, reafirmou Petro em sua conversa na Casa de Nariño, em Bogotá.
O contexto dos ataques militares dos EUA
Nos últimos meses, tensões entre o governo colombiano e a administração Trump aumentaram significativamente, especialmente após os Estados Unidos realizarem uma série de ataques aéreos no Caribe e no Pacífico Oriental. O relato de pelo menos 19 ataques, que resultaram em inúmeras mortes, gerou críticas, pois o governo Trump justificou as ações alegando que o país estava em “conflito armado” com cartéis de drogas. Além disso, Trump acusou as embarcações atacadas de serem operadas por organizações terroristas estrangeiras responsáveis pela inundação das cidades americanas com drogas.
No entanto, a administração Trump não apresentou evidências de suas alegações, levando legisladores, incluindo alguns republicanos, a questionar a legalidade dos ataques e a falta de informações detalhadas sobre os alvos.
Reações da Colômbia e outras nações
Após a intensificação das críticas e da pressão exercida pelo governo dos EUA, Petro decidiu suspender o compartilhamento de inteligência com Washington, o que foi um passo significativo na dinâmica das relações bilaterais. Ele também mencionou que a Colômbia apreendeu mais cocaína do que qualquer outro país na história, defendendo a eficácia de suas políticas antidrogas e rebatendo as acusações de Trump com os dados. Ao mesmo tempo, o governo britânico também anunciou a interrupção do compartilhamento de informações, citando preocupações sobre a legalidade das ações norte-americanas.
Petro expressou que as pessoas que operam as embarcações muitas vezes são indivíduos pobres, que são empregados pelos traficantes “em sua pobreza.” Ele destacou que, em ataques letais, geralmente as vítimas são os boatmen, e não os verdadeiros responsáveis pelo tráfico de drogas.
A situação se agravou ainda mais quando Trump atacou Petro nas redes sociais, chamando-o de “líder de drogas ilegal” e acusando-o de ser cúmplice no tráfico. Como resposta, Petro o qualificou de “perdido” e sugeriu que Trump estava sendo mal assessorado sobre a realidade do narcotráfico na Colômbia.
Reflexões finais sobre a escalada de tensões
As tensões entre a Colômbia e os EUA refletem não apenas a complexidade da luta contra o tráfico de drogas na região, mas também as amplas repercussões políticas e sociais que essa luta pode ter. O enfrentamento direto entre os dois países, em um momento em que a colaboração é vista como crucial no combate ao narcotráfico, deixa evidente o desafio que ambos enfrentam.
Enquanto o governo colombiano reitera sua posição de independência e responsabilidade, o foco na soberania nacional é um aspecto crucial, especialmente em um região tão vulnerável a interações internacionais conflituosas. O desenvolvimento da narrativa política em torno dessa questão permanece importante para a construção de um futuro mais colaborativo e sustentável entre a Colômbia e seus parceiros internacionais.


