Brasil, 14 de novembro de 2025
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América Latina enfrenta dilemas na transição energética e climático

Região, rica em fontes renováveis, luta contra dependência de fósseis, desigualdade e exploração, em meio às discussões na COP30.

Com os olhos do mundo voltados para Belém e para a COP30, a América Latina vive um momento decisivo na sua trajetória energética e climática. Apesar de sua abundância em fontes renováveis, como hidrelétricas, solar e eólicas, a região enfrenta um paradoxo: a forte dependência de combustíveis fósseis, o desmatamento e as profundas desigualdades sociais continuam a moldar o cenário energético e ambiental.

Compromissos e contradições na transição energética latino-americana

Países como Chile, Brasil e Uruguai destacam-se por avanços em energias renováveis. No entanto, a maioria das nações latino-americanas mantém políticas que favorecem petróleo, gás e mineração, revelando o que os pesquisadores chamam de um “paradoxo extrativista”.

Essa disputa reflete modelos de desenvolvimento, governança e justiça social, onde categorias de crescimento sustentável convivem com interesses extrativistas comerciais.

O desafio de um modelo baseado na exploração de recursos naturais

Historicamente, a dependência do extrativismo – seja no petróleo, no minério ou na soja – sustentou o crescimento econômico, mas também aprofundou desigualdades e degradação ambiental. A nova economia “verde” corre o risco de reproduzir esses padrões sob uma nova roupagem, o chamado neoextrativismo, evidenciado na disputa por minerais críticos para tecnologias renováveis, como o lítio.

Na COP30, realizada na Amazônia, essa contradição fica ainda mais evidente. Apesar das metas de descarbonização do Brasil, novos projetos de exploração na região ameaçam sua floresta, que é símbolo global de ecossistema e esperança climática. A continuidade de um modelo de desenvolvimento baseado na extração do patrimônio natural desafia as promessas de uma transição justa e sustentável.

Histórico de desenvolvimento e seus impactos

Desde as décadas de 1960 e 1970, as lideranças latino-americanas defendiam o crescimento como caminho para o progresso social e ambiental. O Modelo Mundial da Fundação Bariloche, inspirado na crítica aos limites físicos do planeta, propunha maior justiça social e institucional para conter a degradação ambiental, que era vista como resultado de desigualdades estruturais.

No entanto, o discurso se distorceu ao longo do tempo. A preocupação ambiental foi usada por elites para justificar o crescimento sem limites, atrasando ações efetivas contra a crise climática e a desertificação social. Assim, a região permaneceu presa a um paradigma que prioriza a exploração de recursos.

Contradições nas emissões e políticas públicas

O perfil de emissões latino-americano é marcadamente distinto do global: enquanto na maioria do mundo, o setor de energia lidera as emissões de gases de efeito estufa, na região, a agricultura, o desmatamento e as mudanças no uso da terra representam grande parte delas.

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) mostram que, de 1990 a 2021, as emissões relacionadas ao uso da terra reduziram-se significativamente, mas permanecem elevadas comparadas às médias globais. O Brasil, por exemplo, conseguiu reduzir suas emissões em 41%, mas ainda está distante da meta de 48% até 2030, segundo o Acordo de Paris.

Apesar dos avanços institucionais, a governança climática na região é frágil. Cortes orçamentários, crises políticas e conflitos socioambientais dificultam a implementação de suas metas, sobretudo em áreas críticas como a Amazônia, onde políticas de expansão agropecuária intensificaram o desmatamento e a exploração ilegal.

Transição energética: avanços e obstáculos

Embora a matriz elétrica seja majoritariamente renovável (cerca de 60%), os setores de transporte e indústria continuam intensamente dependentes de combustíveis fósseis, respondendo por uma parcela significativa das emissões de CO₂. O transporte, com 41%, apresenta desafios específicos, como a necessidade de investir em mobilidade elétrica e transporte público sustentável.

Pela sua influência política e econômica, o setor fóssil ainda domina muitas decisões de política energética. Empresas estatais, investidores e organismos multilaterais costumam promover o gás natural como “combustível de transição”, o que pode prolongar a dependência de infraestrutura carbonizada e atrasar uma verdadeira transformação tecnológica e industrial.

Outro desafio é a dependência tecnológica de equipamentos importados, que limita o desenvolvimento de capacidades internas. A exploração de minerais estratégicos, como o lítio e o cobre, é crescente, mas frequentemente acarreta conflitos sociais e ambientais, reproduzindo o velho padrão de exportação de matérias-primas.

Caminhos e possibilidades para uma transição justa na COP30

Sediada em Belém, a COP30 simboliza um momento de inflexão para a região. A questão central é se a América Latina se comprometerá com uma verdadeira transição de modelo, priorizando não apenas o crescimento econômico, mas a justiça social, a preservação ambiental e a inclusão social.

Para isso, é fundamental repensar modelos de negócios que valorizem ativos naturais – como florestas e biodiversidade – e promovam inovação, finanças verdes e bioeconomia. A prioridade deve ser construir uma economia baseada em sustentabilidade, que gere prosperidade sem destruir a base que a sustenta.

O futuro da região depende, portanto, de sua capacidade de romper com a dependência histórica do extrativismo e de suas estruturas de poder, rumo a uma transição que seja efetivamente socialmente justa e ambientalmente decente. A COP30 pode marcar esse ponto de virada, ou simplesmente reforçar velhos padrões disfarçados de sustentabilidade.

— Lira Luz Benites Lázaro, pesquisadora no Centro Paulista de Transição Energética, Unicamp.

Este texto é uma republicação de The Conversation, sob licença Creative Commons.

Fonte

**Meta descrição:** Análise dos dilemas da América Latina na transição energética e climática, marcada por contradições, desigualdade e desafios na COP30.
**Palavras-chave:** transição energética, América Latina, mudanças climáticas, extrativismo, COP30.

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