Em meio a um cenário de instabilidade política e social, o representante da Comunidade Santo Egídio em Nampula, Américo Sardinha, defende a necessidade urgente de promover o diálogo e o respeito às decisões tomadas nas esferas políticas para garantir a paz e fortalecer a democracia em Moçambique. Segundo ele, essa não é uma questão apenas local, mas um desafio que permeia todo o continente africano.
Os desafios da democracia em África
Em uma entrevista à Rádio Vaticano, Sardinha destacou que a África ainda enfrenta grandes desafios democráticos, frequentemente marcados pela concentração de poder e instabilidade. “Infelizmente, em muitos países africanos, governam os partidos que foram libertadores. É bom que governem, mas também é preciso compreender as transformações que estão a acontecer. Temos de aprender a ler os sinais dos tempos”, afirmou, enfatizando a importância da adaptabilidade às novas demandas sociais.
A violência e o papel da juventude
Um dos pontos críticos abordados por Sardinha é como a falta de respeito pelos processos de tomada de decisão pode levar à violência. “Sempre que não se respeitam as decisões, caímos na violência. A África precisa de trabalhar muito nesse sentido, com reflexão e diálogo profundo”, alertou, fazendo um apelo à conscientização sobre a necessidade de um ambiente político que promova a inclusão e o respeito mútuo.
Além disso, ele ressaltou o papel crucial da juventude na construção da paz. Com o desemprego e a exclusão juvenil sendo problemas amplamente disseminados, muitos jovens acabam se envolvendo em atos de violência. “É preciso criar caminhos de esperança e investir na formação”, argumentou Sardinha, sublinhando a importância de se oferecer oportunidades aos jovens como forma de prevenir a violência.
Programa de formação e inclusão
A Comunidade Santo Egídio tem trabalhado para implementar formações para jovens deslocados e locais em áreas como Nampula e Corane. “Mais de 600 jovens já foram formados com o apoio da comunidade. Queremos continuar a dar esperança e oportunidades”, afirmou. Essas iniciativas de inclusão e reconciliação são essenciais para ajudar a construir uma sociedade mais pacífica e coesa.
Apelo à paz e à reconciliação
O apelo de Américo Sardinha ressoa com as mensagens do Papa Francisco, que, durante a Oração Internacional pela Paz, organizada pela Comunidade Santo Egídio em Roma, salientou que “nenhuma guerra é santa” e que a paz é o primeiro bem a ser construído. O Santo Padre enfatizou que todos são chamados a ser “artesãos da reconciliação”, reforçando a ideia de que a construção da paz é uma responsabilidade coletiva.
Em um tempo onde a divisão e a hostilidade parecem prevalecer, o comprometimento com o diálogo e o respeito são fundamentais para a construção de um futuro melhor em Moçambique e em toda a África. Sardinha finaliza seu apelo com um convite à oração e ao compromisso de todos na busca pela paz.
Essas vozes que clamam pela paz e pela inclusão são vitais em um contexto onde as feridas ainda estão abertas. O futuro de Moçambique e de muitos países africanos depende da capacidade de ouvir e debater, criando um ambiente onde todos possam prosperar. A promoção de um diálogo construtivo é, sem dúvida, o caminho que levará a uma sociedade mais justa e pacífica.


