Brasil, 12 de novembro de 2025
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Racismo ambiental na sede da COP30 e desigualdades em Belém

Moradores de bairros com maioria negra em Belém enfrentam falta de saneamento e água, evidenciando racismo estrutural na cidade sede da COP30

A sede da COP30 em Belém denuncia desigualdades raciais e sociais, com bairros de maioria negra convivendo com precariedade em saneamento e abastecimento de água. Uma análise da Agência Pública, baseada em dados do IBGE, revela que bairros como São João do Outeiro, com grande população negra, têm acesso limitado à água potável e saneamento básico.

Desigualdade no acesso ao saneamento em Belém

Segundo o Censo de 2022, em São João do Outeiro, 44,4% dos moradores não têm acesso à rede geral de água potável. A maioria da população, composta principalmente por mulheres negras, vive com baixa renda, com média de R$ 1.410 por mês, e enfrenta dificuldades de abastecimento há décadas. Rosilda Santana, bibliotecária de 60 anos, relata que, em seus 30 anos no bairro, nunca teve água regular na torneira, tendo que buscar água em caixas d’água ou poços artesianos.

A situação se repete em outros bairros periféricos, como Campina de Icoaraci, onde apenas 15,5% da população possui saneamento acessível. Jhulya Souza, confeiteira e moradora do bairro, denuncia a falta de pavimentação e coleta de esgoto, além de dificuldades na realização de suas atividades comerciais devido às más condições de infraestrutura.

Impactos raciais e vulnerabilidade social

Especialistas destacam que a precariedade do saneamento em Belém é reflexo de desigualdades históricas e raciais. Lígia Paz, engenheira sanitarista, afirma que os investimentos não são distribuídos de forma equitativa, concentrando-se nas áreas do centro e sul da cidade, onde vivem pessoas de maior renda e maioria branca. Isso evidencia o racismo ambiental que acomete os bairros mais vulneráveis, habitados por pessoas negras e de baixa renda.

Para Vitória Moreira, moradora de São João de Outeiro, a ausência de saneamento reforça o racismo ambiental, com descarte irregular de lixo e falta de conscientização, agravando a qualidade de vida dos moradores. Ela ressalta que as obras públicas priorizam áreas centrais, negligenciando as periferias.

Desafios e perspectivas na gestão do saneamento em Belém

O governo do Pará projeta que, até 2039, a concessão do serviço de água e esgoto pela empresa Águas Pará atenderá 126 municípios, incluindo Belém, com investimentos de aproximadamente R$ 19 bilhões. No entanto, o legado da histórica desigualdade estrutural aponta para a necessidade de políticas públicas mais inclusivas e integradas, que combatam o racismo ambiental e garantam acesso universal ao saneamento.

O problema de saneamento na região é antigo e agravado pela concentração de investimentos na área central, enquanto as periferias permanecem abandonadas. Como explica o especialista Valdinei Mendes da Silva, os sistemas de abastecimento e tratamento de água nas áreas periféricas sempre foram precários, reforçando a exclusão social e racial.

Na véspera da COP30, a disparidade no acesso ao saneamento em Belém evidencia a necessidade de uma agenda urgentemente voltada para a justiça social e ambiental, com atenção especial às comunidades negras e vulneráveis. O combate ao racismo estrutural no setor de saneamento é essencial para transformar a cidade e efetivar os direitos básicos de suas populações mais vulneráveis.

Fonte: Agência Pública

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