Brasil, 12 de novembro de 2025
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Obras da COP30 revelam contradições em Belém

Investimentos bilionários na preparação para a COP30 em Belém não têm sido suficientes para concluir obras essenciais, evidenciando desigualdades na cidade.

Belém, sede da COP30, recebeu R$ 11 bilhões em investimentos públicos e privados para promover melhorias no saneamento, mobilidade e reordenamento urbano. No entanto, com o início do evento, diversas obras permanecem incompletas, gerando questionamentos sobre o real impacto das ações na cidade.

Obras incompletas e promessas não cumpridas na preparação para a COP30

Dentre as intervenções ainda pendentes estão a readequação da Avenida Rômulo Maiorana, no bairro do Marco, próxima à área oficial da conferência, além do Parque Igarapé São Joaquim, na Avenida Júlio César, e canais em bairros periféricos como Vileta, no Marco, e Caraparu, no Guamá.

Norma Leal, moradora nas proximidades do igarapé São Joaquim, expressa sua indignação: “Vi minha rua virar uma avenida, com mudanças no trânsito. Queria poder aproveitar o canal, igual fizeram na doca.” Apesar dos anúncios de aceleração das obras, muitas atividades ainda estão incompletas ou em fase de ajustes, com tapumes e entulhos ainda presentes nas áreas de intervenção.

Promessas de legado e as contradições na execução das obras

A Prefeitura de Belém e o Governo do Pará afirmaram que estavam acelerando os processos para entregar as obras até o início da COP30. Contudo, ao visitar os locais, percebe-se que a readequação da avenida e o parque continuam incompletos, prejudicando a expectativa de um legado efetivo para a cidade.

O Parque Igarapé São Joaquim, um dos projetos mais ambiciosos, que visa conectar periferias com a orla de Belém, deveria ter sido finalizado em outubro, mas ainda apresenta áreas de lama, máquinas e estrutura improvisada. A falta de conclusão reforça a percepção de uma cidade que corre contra o tempo e enfrenta obstáculos na execução de suas promessas.

Impactos econômicos e sociais da infraestrutura durante a preparação para a COP30

Apesar dos atrasos nas obras, o investimento bilionário impulsionou o mercado de trabalho no estado. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgado em agosto, a taxa de desemprego no Pará recuou para 6,9%. Contudo, o estado ainda lidera a lista de maior informalidade no Brasil, com quase 60% dos trabalhadores sem carteira assinada, destaca o IBGE.

Essa precarização se reflete na insatisfação de trabalhadores, que chegaram a fazer uma greve de nove dias em setembro, reivindicando reajustes salariais modestos e melhores condições de trabalho. A paralisação também trouxe avanços, como a conquista de direitos para as mulheres operárias, com reconhecimento profissional e protocolos antiassédio.

Desigualdade e os lucros concentrados no mercado imobiliário

O momento de efervescência do mercado imobiliário em Belém contrasta com as dificuldades dos trabalhadores da construção civil. Mesmo após 20 anos na profissão, Claudeilton Almeida recebe apenas R$ 300 por laje, valor que permanece inalterado em relação a 2005, enquanto os preços dos imóveis atingem médias de R$ 8.164 por metro quadrado.

O avanço do setor imobiliário, que deverá gerar R$ 1,5 bilhão em vendas na Grande Belém em 2024, não se traduz em melhorias para a população mais vulnerável. O déficit habitacional chega a 354 mil moradias no Pará, além de cerca de 80 mil pessoas vivendo em situação de rua, indicando que as cifras bilionárias para obras não atingem os setores mais necessitados.

Contradições entre o discurso sustentável e a realidade social em Belém

Segundo especialistas, há um claro desalinhamento entre o discurso de sustentabilidade e inclusão das obras da COP30 e a realidade socioeconômica da cidade. “Belém é marcada por desigualdades gritantes. Os bilhões investidos não chegam às mãos de quem constrói esse progresso”, afirma Everson Costa, do Dieese.

Enquanto o evento reforça a imagem de uma cidade em transformação e comprometida com o clima, a população enfrenta problemas históricos de desigualdade, precariedade no trabalho e moradia. Isso aponta para a necessidade de políticas que vão além das obras físicas, incluindo ações voltadas à justiça social e inclusão.

Perspectivas e desafios futuros

Mesmo com o esforço para concluir obras, o impacto efetivo das ações em Belém ainda depende de políticas públicas que garantam o benefício às comunidades mais vulneráveis. A realização da COP30 pode ser uma oportunidade para promover mudanças estruturais, mas o sucesso dependerá do compromisso em transformar promessas em ações concretas para toda a sociedade.

As obras e investimentos em Belém, apesar de simbólicos, evidenciam uma cidade que enfrenta uma disputa entre o legado prometido e as contradições sociais que persistem.

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