Após cinco meses do 18º aniversário, meu filho começou a apresentar sinais de psicose, o que levou à internação involuntária. Meses depois, ele teve um segundo episódio grave, abandonando o tratamento e se automedicando com maconha, o que agravou sua condição.
Compra de arma e tentativas de proteção diante de ameaças e surtos
No último ano, nosso filho passou por três hospitais psiquiátricos em três meses. Depois de sair voluntariamente do último, ele se estabeleceu na região de Uptown, Chicago, próxima à nossa cidade natal em Illinois. Em novembro, começamos a perceber sinais preocupantes. Mensagens ameaçadoras e postagens nas redes sociais indicavam sua deterioração mental.
Ele ameaçou nossa família por texto, e dois dias antes do Thanksgiving, viajou até Florida, onde moramos, alegando que devíamos dinheiro a ele. Logo após, descobrimos que ele havia carregado uma pistola 9 mm e 100 balas na loja de armas, embora a loja se recusasse a fornecer informações sem autorização judicial. Minha única esperança era que a polícia pudesse agir para evitar uma tragédia.
Impasses na tentativa de impedir o acesso a armas
Sabendo das leis estaduais e federais, tentei confirmar se meu filho poderia possuir a arma, considerando sua condição mental e as ameaças anteriores. Como ele estava na fila para pegar a arma, pensei em acionar a polícia. Liguei para a loja, que orientou me a telefonar para a polícia local, mas eles disseram que, por ele estar longe, não considerariam suas ameaças como credíveis naquele momento.
Desesperada, entrei em contato com a polícia da Flórida, mas não obtive retorno. No dia seguinte, enviei meu filho a um parente, monitorando seus passos via redes sociais para garantir sua segurança, enquanto tentava descobrir se ele podia ou não adquirir a arma com a documentação disponível.
Luta legal e internações forçadas
Em Illinois, buscando proteção, conseguimos uma ordem judicial de hospitalização após uma longa batalha legal, pois, ao contrário de outros estados, o sistema local não permite a internação compulsória de indivíduos viciados, mesmo com sinais de grave enfermidade mental. Após uma busca obsessiva, encontramos nosso filho no apartamento, onde, ao tentar impedí-lo de fugir, a polícia o levou para uma internação involuntária.
Durante todo esse processo, ficou claro que, sem uma rede eficaz de proteção, cabe à família e à comunidade tentar controlar uma situação que, muitas vezes, está além do alcance das leis e das instituições. Enquanto isso, o risco de tragédias envolvendo armas e pessoas com transtornos mentais permanece latente.
Necessidade de mudanças no sistema de segurança e saúde mental
Minha experiência revela uma falha estrutural: leis que não obrigam a denúncia ou intervenção precoce e uma polícia muitas vezes não preparada para lidar com ameaças de saúde mental associadas a armas de fogo. É imprescindível que haja uma legislação que exija que escolas, profissionais de saúde e órgãos de segurança relatem sinais de perigo, permitindo ações preventivas.
Dados mostram que uma pessoa com transtorno mental tem maior risco de cometer suicídio com arma de fogo: aproximadamente uma morte a cada 20 minutos nos EUA, segundo pesquisa da Everytown Research. Diante de tamanha vulnerabilidade, é urgente que o sistema seja reformado para proteger não só o indivíduo, mas todos ao seu redor.
O que podemos fazer agora
Famílias que convivem com alguém com transtorno mental devem estar atentas aos sinais de perigo e denunciar, sempre que possível. Assim como existiram legislações para reportar maus-tratos infantis, é fundamental criar mecanismos similares para ameaças de violência envolvendo armas e saúde mental.
Lei e sociedade precisam caminhar juntas. Parlamentares podem enviar projetos que obriguem profissionais a relatar sinais de risco, enquanto cidadãos podem pressionar por mudanças antes que outra tragédia aconteça.
Esperança e desafios futuros
Hoje, meu filho está melhor, morando em uma cidade próxima, em tratamento adequado, com a saúde mental estabilizada e sob medicação. Ainda assim, a angústia permanece, pois sabemos que o sistema atual é insuficiente e que muitas famílias continuam vulneráveis sem apoio adequado.
Se minha história puder alertar alguém, alertar legisladorese fortalecer a conscientização sobre saúde mental e armas, essa dor terá um propósito. É uma luta diária, mas acredito que mudanças concretas podem evitar novas tragédias.

