Nos dias 5 e 6 de novembro, o Vaticano reverberou focos de reflexão e diálogo durante as celebrações que marcam os cem anos da Exposição Missionária promovida por Papa Pio XI, uma data emblemática que se entrelaça com a história da Igreja e a busca pela paz entre os povos. O evento, que ocorreu no contexto do Ano Santo de 1925, trouxe especialistas e estudiosos para discutir os desafios contemporâneos que ainda ecoam no legado daquele marco histórico.
O legado da Exposição Missionária
A conferência internacional, intitulada “Um século da Exposição Missionária Vaticana, divisória de um mundo glocal (1925-2025)”, foi organizada por instituições respeitáveis como a Pontifícia Universidade Urbaniana, a Universidade IULM, os Museus Vaticanos e o Pontifício Comitê de Ciências Históricas. Em um momento considerado significativo, mais de um milhão de visitantes exploraram a exposição entre 21 de dezembro de 1924 e janeiro de 1926, tornando-se um marco na divulgação das missões católicas.
A importância da memória para a construção da paz
O cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, pro-prefeito do Dicastério para a Evangelização, sublinhou em seu discurso de encerramento a urgência de reforçar os estudos históricos e a colaboração científica para avançar no diálogo intercultural e interreligioso. Ele enfatizou que a memória é fundamental para a construção da paz, trazendo à tona os ensinamentos de Leão XIII e a proposta de identificar centros de pesquisa em diversas regiões do mundo, como África e América Latina, para fortalecer essa consciência histórica.
Colaboração interinstitucional e os desafios contemporâneos
O congresso, realizado em locais icônicos de Roma, como o Palácio Cipolla e os Museus Vaticanos, foi um espaço de intersecção entre passado e presente. Diversos palestrantes abordaram temas que refletiram sobre a trajetória da missão universal da Igreja, com ênfase no respeito à verdade e na promoção de um diálogo aberto no mundo contemporâneo. O presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas, padre Marek Inglot, enfatizou a importância da colaboração e inovação na pesquisa histórica.
Culturas em diálogo e o papel da arte
A iniciativa de Pio XI, que visava promover o conhecimento de diferentes culturas, ressoou fortemente ao longo do congresso. O reitor da Pontifícia Universidade Urbaniana, Vincenzo Buonomo, anunciou que uma publicação das atas do congresso está a caminho, reforçando a continuidade dessa missão de diálogo cultural. A reitora da IULM, Valentina Garavaglia, destacou a arte como um instrumento essencial de aproximação entre povos, alinhando-se ao convite histórico de Leão XIII para refletir sobre a educação como um ato de esperança.
Pio XI e a fundação de um Museu Etnológico
Reconhecido como o “Papa das missões”, Pio XI deixou um legado que transcendeu seu tempo. Sua decisão de inaugurar a Exposição Missionária e tornar parte das obras um recurso permanente para a fruição cultural foi um marco no compromisso da Igreja com as missões. O professor Mario Luigi Grigani chamou a atenção para a criação do Museu Etnológico no Palácio Lateranense, um espaço que inicialmente foi o coração da Exposição e que ainda hoje pulsa com a história das missões.
A Exposição que redefiniu os Museus do Vaticano
A diretora dos Museus Vaticanos, Barbara Jatta, afirmou que a Exposição de 1925 transformou a trajetória dos Museus Vaticanos, com o Museu Anima Mundi sendo um exemplo do legado deixado por Pio XI. Esse museu, que incorpora aspectos do passado missionário da Igreja, continua a ser motivo de orgulho e um símbolo da diversidade cultural presente na arte.
Ponte entre passado e futuro
Embora o contexto histórico da exposição em 1925 tenha sido marcado por grandes turbulências, como a Primeira Guerra Mundial e a ascensão de regimes totalitários, o espírito da missiologia emergiu como uma nova abordagem para a evangelização e a construção da identidade católica. O professor Gianpaolo Romanato destacou que essa relação complexa entre passado e futuro deve orientar as práticas da Igreja contemporânea.
Roma como símbolo da universalidade da Igreja
O vice-reitor do Almo Collegio Capranica, Dom Diego Pinna, reafirmou Roma como um centro de evangelização, onde a universalidade da Igreja se manifesta. A Exposição Missionária de 1925 foi um passo fundamental na afirmação desse papel central da cidade sagrada no mundo católico.
Envolvimento do Vaticano em Exposições Universais
As Exposições Universais, que começaram em Londres em 1851, também foram acompanhadas pelo Vaticano, refletindo o interesse contínuo dos papas em promover as obras missionárias da Igreja. Micol Forti, curadora da coleção de arte moderna dos Museus do Vaticano, apresentou uma visão abrangente sobre a participação da Igreja neste tipo de evento, que se consolida como um espaço de diálogo cultural e promoção das missões.
Exposição “Biblioteca Missionum” e reflexões finais
No fechamento do congresso, foi apresentada a exposição “Biblioteca Missionum”, um compêndio que destaca a missão e a produção cultural dos missionários ao longo do século. Com isso, o cardeal Tagle invocou as palavras do bispo ortodoxo Ioannis Zizioulas, enfatizando a importância de lembrar o futuro como uma maneira de iluminar a memória do passado.
O centenário da Exposição Missionária no Vaticano não apenas celebra um legado, mas também se volta para os desafios e necessidades do mundo contemporâneo, promovendo um diálogo que busca construir pontes entre as culturas, em um mundo cada vez mais interconectado.


