Nesta quarta-feira (5), a Polícia Civil do Piauí anunciou a interdição de 49 postos de combustíveis em uma operação que revela um esquema de lavagem de dinheiro relacionado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A operação, batizada de Carbono Oculto 86, ocorreu em cidades do Piauí, Maranhão e Tocantins e levanta preocupações sobre crimes financeiros e a adulteração de combustíveis.
O esquema do PCC e a construção da distribuidora
De acordo com as autoridades, o PCC estava desenvolvendo uma distribuidora de combustível na rodovia que conecta Teresina ao município de Altos, com a intenção de abastecer outros estados. O secretário de Segurança do Piauí, Chico Lucas, destacou que a localização estratégica do Piauí, com uma capital no interior, contribuía para os planos da facção criminosa. “Esse grupo estava construindo uma distribuidora de combustível para irrigar outros estados, sendo alimentado pelo braço financeiro do PCC”, explicou Lucas durante coletiva de imprensa.
A suspeita é que a nova instalação pudesse ser utilizada como um ponto de adulteração de combustíveis, prática que já vinha sendo observada desde 2023. O delegado Laércio Evangelista, coordenador do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco), mencionou que as investigações estão focadas em determinar a extensão e a eficácia desses esquemas na desestabilização do mercado de combustíveis e na adulteração de produtos.
Impactos no setor de combustíveis
O envolvimento do PCC no setor de combustíveis tem gerado um desequilíbrio significativo para os consumidores. Segundo Chico Lucas, as adulterações não apenas afetam a qualidade do combustíveis, mas também levaram à prática da “bomba baixa”, onde combustíveis de má qualidade são vendidos a preços reduzidos. Três dos postos interditados apresentam um histórico alarmante, com mais de 20 autuações na Justiça entre 2023 e 2025, indicando um padrão preocupante de atividades ilícitas.
Como funciona o esquema
A Polícia Civil revelou que um total de R$ 5 bilhões em movimentações atípicas foi identificado nas contas das empresas relacionadas ao esquema. A forma de operação lembrava os métodos já utilizados na Operação Carbono Oculto, realizada em agosto, que se tornou uma das maiores ações contra o crime organizado no Brasil. A partir de nomes de laranjas e a utilização de fintechs, os envolvidos conseguiam dificultar a identificação dos verdadeiros beneficiários das receitas ilícitas.
O ex-vereador e ex-secretário Victor Linhares, um dos alvos das investigações, é acusado de movimentar grandes somas de dinheiro por meio de contas em fintechs, incluindo uma conhecida como a “fintech do PCC”. Lutando para escapar da lei, ele recebeu um pagamento suspeito de R$ 230 mil que foi rapidamente transferido para outra conta, após o que ele deixou de acessar a conta.
Os alvos da operação
Além de Victor Linhares, outros cinco suspeitos foram identificados e tiveram medidas cautelares impostas. Os investigados incluem Haran Santhiago e outros associados acusados de participar do esquema criminoso. A Justiça determinou que não apenas compareçam ao tribunal quando intimados, mas também se abstenham de sair de Teresina ou mudar de endereço, além de evitar qualquer comunicação com os co-investigados.
Cidades afetadas pela operação
Os policiais estão atualmente em campo para interditar postos nas seguintes cidades: no Piauí, Teresina, Lagoa do Piauí, Demerval Lobão, Miguel Leão, Altos, Picos, Canto do Buriti, Dom Inocêncio, Uruçuí, Parnaíba e São João da Fronteira; no Maranhão, Caxias, Alto Alegre e São Raimundo das Mangabeiras; e em Tocantins, São Miguel do Tocantins.
A ação da Polícia Civil visa não apenas fechar as operações ilegais, mas também restaurar a segurança e a integridade do mercado de combustíveis na região. A expectativa é que o desmantelamento desse esquema possa contribuir para a estabilidade da economia local e gerar um ambiente mais seguro para os consumidores.



