O preço do leite cru pago ao produtor no Brasil caiu 4,2% em setembro de 2025, comparação com agosto, marcando a sexta consecutiva de baixa nas cotações, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em Piracicaba (SP). A tendência de desvalorização deve persistir até o final de 2025, de acordo com especialistas do setor, devido ao mercado doméstico altamente abastecido.
Fatores que expliquem o cenário de quedas no preço do leite
De acordo com análises do Cepea, o aumento consistente da produção ao longo de 2025, impulsionado por investimentos após margens mais favoráveis em 2024, é um dos principais fatores. Além disso, a sazonalidade da primavera e do verão, com melhora nas pastagens, também contribui para a ampliação da oferta. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) subiu 5,8% de agosto para setembro e acumula alta de 12,2% no ano, refletindo maior volume de produção.
Outro aspecto importante é o aumento de 20% nas importações de lácteos em setembro, totalizando 198,1 milhões de litros em equivalente leite, sendo quase 80% leite em pó. Enquanto o mercado interno se mantém saturado, as exportações cresceram 11% em setembro, mas ainda não compensam a oferta excedente, agravando a pressão de baixa nos preços.
Impactos e efeitos do atual cenário
O ambiente de excesso de oferta deve continuar pressionando os preços no curto prazo. Segundo especialistas, “as sucessivas quedas podem desacelerar a produção, sobretudo no início da safra das águas, em regiões como Sudeste e Centro-Oeste, mas a alta de oferta deve persistir ainda que em ritmo menor, indicando ajuste na oferta”.
O preço médio do leite no Brasil, nas maiores regiões produtoras, fechou em R$ 2,4410 por litro em setembro, representando uma baixa real de 19% em relação ao mesmo mês do ano passado. Essa queda acentuada impacta diretamente na rentabilidade do setor.
Mercado e cadeia produtiva
As importações recuaram 4,8% entre janeiro e setembro de 2025, enquanto as exportações diminuíram 36,7% no mesmo período, totalizando 52,9 milhões de litros. Essa abundância de oferta mantém o mercado saturado, com estoques elevados e margens de lucro comprimidas, especialmente nos segmentos de/uht e muçarela.
Derivados como leite UHT, queijo muçarela e leite em pó tiveram desvalorizações no atacado paulista em setembro, de 2,87%, 2,08% e 1,66%, respectivamente, refletindo a baixa no valor do produto final.
Custos de produção e perspectiva futura
Na indústria, os custos fixos elevados e a baixa rentabilidade aprofundam as dificuldades dos produtores. Apesar de uma leve redução de 0,9% no Custo Operacional Efetivo (COE) em setembro, essa diminuição não acompanha a forte queda das cotações, estreitando as margens. Além disso, o aumento dos preços dos grãos e insumos de nutrição deteriorou ainda mais o poder de compra dos produtores, que precisaram de 26,5 litros de leite para adquirir um saco de 60 kg de milho em setembro, alta de 5,4% frente a agosto.
O levantamento da USP revela que, em 2025, o valor do leite ao produtor teve alta de 18%, impulsionada por maiores disputas entre indústrias de lácteos no início do ano. Entretanto, o cenário de baixa prevalece na segunda metade do período, com tendência de manutenção até o fim de 2025.
Segundo projeções de agentes do setor, o mercado deve manter a pressão de queda, embora o ritmo de produção possa desacelerar com o avanço sazonal e adaptação do setor. A expectativa é de que a oferta continue elevada, mas com sinais de ajuste nas próximas semanas.
Mais detalhes podem ser consultados na reportagem original no g1 Piracicaba.



