Na manhã desta segunda-feira (27), o Brasil se despediu de um de seus mais renomados juristas: o advogado Sergio Bermudes. Reconhecido por sua atuação incansável na defesa dos direitos humanos, especialmente durante o período da Ditadura Militar, Bermudes se destacou por ter representado a viúva de Vladimir Herzog, Clarice Herzog, em um processo histórico que resultou no reconhecimento do assassinato do jornalista enquanto estava sob a custódia do Exército.
A trajetória de um defensor dos direitos humanos
Natural de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, Sergio Bermudes faleceu aos 79 anos após complicações decorrentes da Covid-19. Ele estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, e sua morte foi confirmada pelo hospital, que informou que a família optou por não divulgar mais detalhes.
Ao longo de sua carreira, Bermudes construiu um legado que vai além de simples vitórias judiciais. Sua atuação emblemática contra a Ditadura Militar e sua defesa de figuras como Eunice Paiva — viúva do ex-deputado Rubens Paiva — em investigações contra torturadores, marcaram sua caminhada no meio jurídico. Os processos que patrocinou são verdadeiros marcos na luta pela justiça e pela verdade no Brasil.
Educação e influência na formação de juristas
Formado em Direito pela Universidade do Estado da Guanabara, atual UERJ, em 1969, Bermudes fundou imediatamente o escritório Sergio Bermudes Advogados. Com o passar dos anos, ele se estabeleceu como um dos advogados mais respeitados, atuando em casos de contencioso estratégico e arbitragem em grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Além de seu trabalho como advogado, Bermudes também se dedicou ao magistério. Desde 1970, ele lecionou em diversas instituições de ensino, incluindo a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde foi responsável pela cadeira de Direito Processual Civil. Sua dedicação à educação contribuiu para a formação de gerações de novos advogados, perpetuando seus ensinamentos e sua ética profissional no universo do Direito.
Reconhecimento e luto oficial
O falecimento de Sergio Bermudes gerou grande comoção na classe jurídica e entre figuras públicas. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lamentou sua morte e declarou luto oficial de três dias, reconhecendo a imensurável contribuição do advogado para o Direito no Brasil.
O presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti, destacou as qualidades de Bermudes: “Sergio Bermudes reuniu talento, coragem e rigor técnico em uma trajetória que honra a advocacia brasileira. Sua atuação firme em momentos-chave da nossa história deixa um legado de integridade e compromisso com a profissão.”
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, também expressou seu pesar e destacou a importância do advogado para o estado e para o país: “Lamento profundamente o falecimento do advogado e jurista capixaba, Sergio Bermudes, referência nacional no Direito e orgulho para o nosso Estado.” Assim como ele, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, também manifestou sua tristeza: “O Brasil perdeu hoje um dos maiores nomes na advocacia, cuja trajetória foi marcada pela inteligência e dedicação ao Direito.”
Um legado de integridade e compromisso
Além de seu trabalho emblemático em causas de direitos humanos, Sergio Bermudes fez contribuições significativas para questões econômicas e jurídicas no Brasil. Sua participação na revisão do Código de Processo Civil e sua significativa contribuição na resolução de disputas milionárias envolvendo bancos e poupadores são exemplos de sua versatilidade e competência.
Com sua morte, o Brasil perde não apenas um advogado famoso, mas um defensor dos direitos e da justiça, cuja história e dedicados esforços continuarão a inspirar gerações futuras. Sua vida e seu trabalho são um exemplo de como a advocacia pode (e deve) ser uma força transformadora na sociedade.
Sergio Bermudes deixa um legado que será lembrado não só por seus alunos e colegas, mas por todos aqueles que lutam pela justiça e pela verdade. O Brasil, neste momento, reflete sobre a importância de figuras como ele e a necessidade de continuar suas lutas por um futuro mais justo.


