Na cidade do Sul, um adolescente de 16 anos morreu após um acidente de trabalho, com uma corda enroscada no corpo, enquanto tentava içar um equipamento no prédio onde atuava como estagiário. O episódio ocorreu às 18h, e a tentativa de reanimação foi infrutífera. Essa tragédia ocorre em um contexto alarmante, com aumento de acidentes envolvendo menores no Brasil, incluindo mortes e ferimentos graves.
Dados preocupantes sobre trabalho infantil e acidentes
De 2007 a maio de 2025, foram registradas 415 mortes de menores em ambientes de trabalho no país, sendo 22 de crianças com menos de 13 anos. Em 2024, pelo menos 15 crianças e adolescentes sofrem acidentes diários em trabalhos perigosos e insalubres, atividades proibidas para menores de 18 anos, de acordo com dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), compilados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Aumento de acidentes formais e informais
Mesmo em empregos formais, com jovens atuando como aprendizes, há registros de acidentes. Em 2023, ocorreram 1.820 casos, com alta de 34% em um ano, chegando a 2.439 em 2024. Além disso, nos registros do Ministério do Trabalho, que acompanha trabalhadores formais, houve uma elevação no número de acidentes com menores, passando de 1.820 em 2023 para 2.439 no ano seguinte.
Impactos do trabalho precoce e fatores de risco
Especialistas alertam que o trabalho infantil causa efeitos físicos e cognitivos graves, especialmente por envolver equipamentos inadequados às crianças e adolescentes. A médica Élida Hennington, da Fiocruz, destaca que essa exposição aumenta o risco de acidentes, doenças respiratórias e deformidades ósseas, como demonstram estudos internacionais. “A participação em trabalhos perigosos e insalubres, além da exposição ao risco de acidentes, pode prejudicar o desenvolvimento das crianças”, afirma.
O uso de máquinas e equipamentos que não são projetados para menores, além da vulnerabilidade física, torna esses jovens mais suscetíveis a mutilações e acidentes fatais. Andréa Tannus, auditora do MTE, aponta que máquinas forrageiras e equipamentos de uso rural são os maiores responsáveis por mutilações e morte de menores no trabalho, muitas vezes em condições precárias e sem proteção adequada.
Crescimento do trabalho informal e suas consequências
O aumento do trabalho infantil invisível, na ruralidade, no doméstico e na informalidade, dificulta a fiscalização e a denúncia. Segundo Luísa Rodrigues, do MPT, a diminuição no número total de crianças e adolescentes trabalhadores, de 2,1 milhões em 2016 para 1,6 milhão em 2023, não garante que o progresso seja suficiente para alcançar a meta das Nações Unidas de erradicar o trabalho infantil até 2025. “Precisaríamos acelerar 11 vezes a redução atual para cumprir esse objetivo”, explica.
Consequências a longo prazo e responsabilidade social
As consequências do trabalho precoce incluem incapacidade permanente, deformidades e problemas de saúde que acompanham as crianças ao longo da vida. Dados do Sinan indicam que, só em 2022, foram 61 casos de incapacidade total ou parcial, com crianças de 9 anos e adolescentes de 16 e 17 anos se tornando permanently incapacitados devido a acidentes de trabalho.
Para especialistas, a combinação entre condições de trabalho precárias, fiscalização insuficiente e vulnerabilidade social aumenta os riscos para menores. “O uso de equipamentos inadequados e a fragilidade física das crianças reforçam a necessidade de políticas mais efetivas de combate ao trabalho infantil”, conclui Élida Hennington.
O número de casos de acidentes e mortes evidencia a urgência de esforços coordenados para garantir o direito à infância e preservar a integridade física dos jovens no Brasil. O combate ao trabalho infantil exige uma força-tarefa de órgãos de fiscalização, sindicatos e sociedade civil para reduzir esses episódios trágicos e proteger as futuras gerações.