Brasil, 20 de julho de 2025
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A força da parceria entre universidades e idosos nos EUA

Campi universitários transformados em comunidades de aposentados retratam inovação diante do envelhecimento populacional

Numa tarde de segunda-feira, no fim de junho, na Universidade Lasell, em Massachusetts, estudantes encerravam a última aula de espanhol básico do semestre. Em duplas, praticavam perguntas sobre nome, comidas favoritas e hobbies.

Encontro intergeracional reforça tendência de convivência nos EUA

Durante a aula, Sara Leclair, estudante do segundo ano, questionou Mandy Waddell, professora aposentada, sobre a idade da colega. Mandy respondeu com humor: “Oitenta e um”. As duas riram, enquanto a aula seguia normalmente, ilustrando uma convivência que vem se tornando mais comum nos EUA.

Desde o início dos anos 2000, universidades como a Lasell vêm criando comunidades de aposentados no campus, uma resposta inovadora às mudanças demográficas e às dificuldades financeiras do ensino superior. Segundo Andrew Carle, consultor do setor de moradias para idosos, há cerca de 85 comunidades desse tipo espalhadas pelo país, com expectativa de crescimento.

Envelhecimento populacional e crise no ensino superior impulsionam união improvável

Nos EUA, a queda nas matrículas universitárias, devido à redução da natalidade após a crise financeira de 2008, convive com a expansão da população idosa, que soma mais de 70 milhões de pessoas com 65 anos ou mais. Até 2050, esse número deve chegar a 88 milhões, representando mais de 20% da população.

Esse cenário provoca fechamento de pelo menos 40 faculdades desde 2020 e a avaliação de outros 80 pelo risco de encerramento. Em contrapartida, há uma alta demanda por moradia adequada para idosos, com estimativas de necessidade de 806 mil novas unidades até 2030, enquanto atualmente menos de 20 mil estão em construção.

Modelos de convivência entre gerações enchem de esperança o futuro

A Lasell Village, pioneira fundada em 2000, demonstra a potencialidade do modelo. Idealizada pelo ex-presidente Tom de Witt, ela surgiu para salvar a própria faculdade, que enfrentava dificuldades financeiras. Hoje, ela abriga idosos que assumem atividades na universidade, contribuem com receitas e participam de programas educativos.

Outras experiências, como a Capstone Village na Universidade do Alabama e a Legacy Pointe na Flórida, reforçam o sucesso do conceito, apesar dos obstáculos burocráticos e legais que podem atrasar ou complicar os projetos.

Benefícios e desafios do modelo intergeracional

Especialistas ressaltam que ações que promovem convivência entre diferentes gerações funcionam melhor quando priorizam a troca de experiências e a aprendizagem ao longo da vida, além de gerarem receita. Nos campi, jovens e idosos criaram laços afetivos, como o “baile sênior” ou amizades que transcendem as diferenças de idade.

Por exemplo, Steve Shelov, ex-pediatra de 80 anos, participa de aulas de história da arte, apoia estudantes de medicina e frequenta atividades culturais na Broadview, um centro de idosos na Purchase College, em Nova York. Segundo Ashley Wade, diretora da Broadview, a interação com os jovens enriquece a aposentadoria.

Oportunidades e dificuldades na consolidação do modelo

O sucesso não é universal. Alguns campi desativados foram transformados em moradias para idosos, mas nem todos os centros de ensino estão aptos a adotar o formato. A morosidade na implementação, resistência local, disputas legais e parcerias com empresas de confiança duvidosa são obstáculos constantes.

Mesmo assim, a oportunidade de transformar antigas instalações em moradias de alto padrão tem atraído investidores e gestores imobiliários, sobretudo em mercados competitivos como Boston e Nova York. O projeto Broadview, com investimento de US$ 400 milhões e lista de espera de 75 famílias, mostra o potencial do setor.

Contribuições para o envelhecimento ativo e socialização

Segundo especialistas, a chave do êxito está na promoção de uma experiência de envelhecimento ativo, com incentivo à participação social e cultural. Os próprios moradores relatam que, ao convivem com jovens, mantêm o espírito aprendiz e se sentem mais vivos.

Doug Manz, da HYM Investment Group, destaca que a combinação de uma sociedade cada vez mais envelhecida com o fechamento de pequenas faculdades oferece oportunidades únicas de readaptação no mercado imobiliário e no setor educacional.

Encerra-se um ciclo e surgem novas perspectivas

Para especialistas, essa tendência representa uma resposta criativa às mudanças demográficas, gerando benefícios para universidades, idosos e a sociedade como um todo. Como disse Courtney Tello, estudante que criou laços afetivos com uma moradora, “muitos estudantes se beneficiariam de amizades assim”.

O ex-presidente Tom de Witt, que se aposentou na Lasell Village em 2021, reforça o valor do conceito: “Esta é a minha vizinhança, depois de tudo o que construi aqui por 19 anos.”

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/07/20/tarde-demais-para-a-vida-de-universitario-nao-para-aposentados-que-dividem-um-campus-com-jovens-nos-eua.ghtml

Tags: inovação, envelhecimento populacional, universidades, moradias para idosos, intercâmbio intergeracional

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