Brasil, 25 de agosto de 2025
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O papel da arte na evangelização nas missões jesuíticas guaranis

Pesquisador Luca Ruggieri destaca a importância da arte na evangelização dos guaranis e a riqueza cultural das missões.

Em uma entrevista ao Vatican News, o pesquisador italiano Luca Ruggieri refletiu sobre como a arte se tornou um instrumento vital na evangelização, especialmente no contexto desafiador das Missões Jesuíticas Guaranis. Ele destaca que, enquanto os jesuítas tentavam implementar uma cultura visual europeia, se depararam com a rica e distinta cultura dos índios guaranis, que não possuíam uma “cultura visiva” idêntica.

História das Missões Jesuíticas Guaranis

As Missões Jesuíticas Guaranis compreendem um notável conjunto de trinta cidades fundadas pela Companhia de Jesus no século XVII, estabelecidas na Província de Paraguaria, que abrange áreas que hoje correspondem ao Paraguai, Argentina, Uruguai, partes da Bolívia, Brasil e Chile. No último dia 18 de maio, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul deu início às celebrações que antecedem os 400 anos dessas missões, um marco que será oficialmente comemorado em 2026.

As missões também desempenharam um papel significativo no desenvolvimento econômico da região, marcando a fundação da primeira fundição de aço da América, conforme destacado por Montesquieu. Além disso, contribuíram para o desenvolvimento da pecuária, comércio de erva-mate, carne e couro, enriquecendo a cultura gaúcha. Juntamente com esses avanços, surgiram instituições educacionais, musicistas e expressões artísticas que moldaram a identidade cultural local.

A influência da arte nas missões

O tema da arte produzida nas Missões Jesuíticas é central no Mestrado em História da Arte na Universidade Roma Tre, orientado pelo professor Mauro Vincenzo Fontana. Durante sua pesquisa, Ruggieri teve a oportunidade de visitar algumas das reduções, como São Miguel, Santo Inácio e Loreto, reconhecendo-as não apenas como patrimônios da América do Sul, mas como legados da humanidade.

O interesse pela arte das missões ressurgiu, em parte, graças ao filme “The Mission” de Roland Joffé, que embora tenha despertado atenção, ainda deixa um vácuo de conhecimento na Europa sobre a produção artística específica das reduções jesuíticas.

Contribuições pessoais de Luca Ruggieri

Ruggieri, originário da região italiana das Marcas, encontrou seu caminho para a arte das reduções através da professora Sabiana Pavone durante sua graduação na Universidade de Macerata. Seu trabalho se concentrou em como os jesuítas utilizaram a arte como um meio de evangelização, especialmente em um contexto em que a cultura visual guarani era bastante distinta da europeia.

Ele observa que os guaranis começaram a incorporar suas características artísticas nas obras sacras, transformando-as em algo verdadeiramente único. “Quando os guaranis se tornaram habilidosos na construção dessas obras, foi o momento em que sua peculiaridade se destacou”, ressalta Ruggieri. Ele menciona que determinados elementos, como a flor do maracujá, presente em diversas esculturas, mostram como a arte missionária pode ser ligada à cultura guarani.

A riqueza polifônica das missões

Ruggieri também discute as dificuldades enfrentadas na pesquisa sobre a arte guarani, destacando a falta de material bibliográfico na Europa. Ele enfatiza a importância de uma colaboração mais estreita entre pesquisadores de diferentes origens, tanto na crítica hispânica quanto na portuguesa, para que a riqueza da arte das missões seja amplamente promovida e reconhecida.

Ele critica a atual condição do Museu de São Miguel das Missões, que permanece fechado, subestimando a magnitude e importância desse patrimônio. “Esse não é apenas um patrimônio do Brasil, é um patrimônio da humanidade”, defende. Para Ruggieri, é crucial que as autoridades compreendam o valor não só estético, mas econômico do patrimônio missioneiro, que pode impulsionar o turismo e o desenvolvimento a longo prazo.

Finalizando, Ruggieri nos convida a olhar para as missões não apenas como uma parte da história, mas como um capítulo vital na narrativa cultural e espiritual, revelando a riqueza polifônica de um patrimônio que merece atenção e valorização contínua.

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