Em um momento marcado por tensões políticas, o ex-comandante da Marinha, Garnier, fez críticas contundentes durante seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). O foco de sua insatisfação foi o assessoramento político oferecido ao ex-presidente Jair Bolsonaro por seu antigo colega na Aeronáutica, enfatizando a falta de necessidade dessa intervenção nas forças armadas.
A crítica ao assessoramento político
Garnier declarou que considerava o “assessoramento político” uma atitude inadequada, destacando o papel que deveria ser exercido por cada um dentro da estrutura militar. Segundo ele, a posição de um comandante não deveria estar envolvida em orientações políticas, como sugerir um “plano de comunicação melhor” ao presidente. “Eu não era assessor do presidente. Eu era o comandante da Marinha”, afirmou, desgostoso com a postura do colega.
A sabedoria do silêncio
Ao ser questionado sobre a sua participação em conversas políticas, Garnier também mencionou o ditado: “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. Essa máxima aponta para o risco de se expor em demasia em assuntos que não o envolvem diretamente. “A mim só interessava alguma coisa caso eu recebesse alguma ordem, alguma orientação”, explicou, reiterando a preferência por se manter em silêncio sobre questões alheias ao seu comando.
Tensões com a defesa
Em outro trecho de seu depoimento, Garnier criticou uma declaração feita pelo antigo chefe da Aeronáutica, Baptista Junior, ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Ele considerou que tal fala não condizia com a postura esperada de um comandante de Força. Garnier expressou sua desaprovação, afirmando que a atitude não se coaduna com o respeito que deve existir nas hierarquias militares.
A polêmica do documento
Durante seu relato, Garnier se referiu a uma reunião que envolvia uma proposta de documento que questionava a “não assunção no 1º de janeiro do presidente eleito”. O ex-comandante da Aeronáutica interpretou o silêncio do ministro Paulo Sérgio como uma concordância tácita com o conteúdo do documento, levando-o a se levantar e abandonar a sala. “Não admito sequer receber esse documento, não ficaria aqui”, contou Garnier, ressaltando: “na guerra, o objetivo político é quem faz ganhar ou perder a guerra, não é o militar”.
Contexto da audiência
O STF, que iniciou os interrogatórios dos réus da ação penal relacionada à suposta trama golpista, esteve no centro das atenções desde segunda-feira. Garnier foi o terceiro a ser ouvido, após o tenente-coronel Mauro Cid e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). A tensão nas audiências reflete a gravidade das acusações envolvidas e o papel que cada um dos depoentes desempenhou na relação entre militar e política ao longo do governo Bolsonaro.
As palavras de Garnier, expressas em meio a uma atmosfera de julgamento e reflexão, levantam questionamentos sobre a linha entre a política e as forças armadas no Brasil. O ex-comandante parece estar ciente da importância de sua postura, decidindo manter-se firme em suas convicções, mesmo que isso signifique se afastar de questões que envolvem diretamente a política.
O desentendimento entre militares e as esferas de poder civil reflete uma dinâmica complexa, que sempre suscita discussões sobre os limites da atuação militar em questões políticas. Com a resoluta afirmação de Garnier, fica evidente que a relação entre os dois setores continua a ser um tema delicado e fundamental para a estabilidade do país.